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São Paulo, sexta-feira, 14 de fevereiro de 2003

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DIREITOS HUMANOS

PF localizou 60 bolivianos, incluindo grávidas, que eram explorados em confecções; coreana foi presa

Polícia descobre trabalho escravo no Brás

DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Federal localizou ontem um grupo de 60 bolivianos, com mulheres grávidas e crianças, que trabalhavam como escravos em confecções caseiras no Brás, no centro de São Paulo.
As pequenas fábricas de roupas funcionavam em um prédio de cinco andares da rua Rubino de Oliveira. Em uma dessas confecções, segundo a polícia, havia uma porta de ferro com tranca dupla do lado de fora, como as de celas de prisão, que possibilitava trancar os trabalhadores.
A coreana Myo Ja Kim Lee, 52, foi presa em flagrante com base no artigo 149 do Código Penal, que define como crime ""reduzir alguém a condição análoga à de escravo" sujeito a pena de dois a oito anos de prisão. O delito é afiançável pela polícia.
Outros nove inquéritos, um para cada confecção, deveriam ser instaurados, já que os proprietários não foram localizados durante a operação. O prédio tinha 20 apartamentos, quatro por andar, e as oficinas de costura se misturavam a pequenos alojamentos.
Em um dos andares, foram encontrados cubículos de dois por três metros onde famílias de três a cinco pessoas dormiam onde trabalhavam. Não se sabe ainda se as crianças também ajudavam os pais nas tarefas diárias.
Segundo a Polícia Federal, o prédio foi vistoriado após denúncia anônima recebida pelo Disque-Denúncia de São Paulo, que relatava a existência de imigrantes ilegais explorados no Brás. A Pastoral do Imigrante e membros da comunidade boliviana acompanharam a ação, que envolveu cerca de 30 policiais da capital.
Os bolivianos tinham entre 20 e 25 anos, alguns estavam no país há menos de três meses.
Ontem à noite, eles foram levados para uma delegacia da Polícia Federal, onde seriam ouvidos e liberados. Os que estavam em situação irregular no país seriam notificados a regularizar seus documentos, sob pena de serem expulsos do país.
Com medo, muitos não quiseram falar sobre as condições em que viviam trancados no prédio, se eram ameaçados ou se sofreram violência no trabalho.
A Folha não conseguiu falar com a coreana presa.


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