São Paulo, domingo, 14 de março de 2004

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Para técnico, falta integração

DA REPORTAGEM LOCAL

Professor do Centro de Estudos em Administração de Saúde da FGV (Fundação Getúlio Vargas) de São Paulo, Álvaro Escrivão, 53, diz que a solução para os problemas dos postos passa por uma integração efetiva dos serviços.
"Eu acho que o que pode ajudar é a implantação de um olhar global sobre a cidade e sua população", afirma Escrivão, que foi coordenador de Epidemiologia e Informação da Prefeitura de São Paulo até 2002.
"O atendimento básico para a população dependente do SUS é pulverizado em um conjunto de serviços de saúde que são públicos, não-governamentais, privados, filantrópicos. Esse é o cenário. Não adianta falar de centro de saúde e PSF [Programa Saúde da Família] sem olhar a população, suas necessidades e quem está atendendo a essas necessidades."
Para o professor, a saída não está em um programa, como o PSF, mas em coordenar o atendimento básico. "O que caracteriza o gerenciamento do sistema de saúde de São Paulo é essa pulverização, essa falta de uma política coordenada de atenção básica que faça uso racional dos recursos existentes", continua. "Para mim, isso exige que a opinião pública passe a exigir do Estado, da prefeitura e de todas as instituições de saúde que atuam em São Paulo que sentem e que de fato resolvam alguns problemas mais urgentes."

Teoria e prática
O SUS (Sistema Único de Saúde), que em 88 tornou universal o atendimento público de saúde no país, traz em sua legislação o princípio da hierarquização dos serviços -a entrada no sistema é pelo posto, não pelo hospital, reservado aos casos graves. Mas a própria história da saúde pública no país -no qual, antes do SUS, o governo fomentou uma rede de hospitais privados -explica por que os postos são esquecidos.
"Entre 70 e 80 houve um grande crescimento da rede. A partir de 1986, 1987, o governo do Estado passou a privilegiar o hospital", acrescenta Nivaldo Carneiro Júnior, presidente da Associação Paulista de Saúde Pública.
Para Escrivão, o discurso do SUS se choca com a configuração política do sistema de saúde. "Onde estão os focos de poder dentro do sistema de saúde? Nos serviços mais complexos." Para ele, por isso é difícil acabar com o modelo centrado nos hospitais.
Escrivão destaca ainda que é preciso conscientizar o paciente para ele fazer um uso racional dos serviços. "Nós não sabemos usar o serviço de saúde porque fomos educados a procurá-lo quando estamos sentindo alguma coisa ou quando aquilo está nos impedindo de trabalhar. Aí queremos ser atendidos na hora, quer a gente seja pobre ou de classe média."



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