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Seqüestrador de Olivetto ensinou PCC
Preso há mais de três anos, Mauricio Norambuena orientou facção a usar táticas de guerrilha em ataques
Na lógica do criminoso, atentados devem ser direcionados a bancos e a ônibus vazios para provocar problemas financeiros
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Condenado a 30 anos de prisão pelo seqüestro do publicitário Washington Olivetto, em
2001, o chileno Mauricio Hernandez Norambuena ensinou,
na cadeia, táticas de terrorismo
aos líderes do PCC (Primeiro
Comando da Capital).
Segundo investigações dos
serviços de inteligência das secretarias da Segurança Pública
e da Administração Penitenciária, teriam partido do seqüestrador as idéias para que os soldados da facção atacassem
agências bancárias com a finalidade de "tentar desestabilizar a
ordem financeira".
Na lógica do criminoso, os
atentados deveriam sempre
ocorrer em horários em que os
estabelecimentos estivessem
fechados, sem usuários ou funcionários, para não criar antipatia popular.
O mesmo princípio valeria
para os atentados às revendedoras de veículos e para os incêndios criminosos contra os
ônibus urbanos, que, por ordem do PCC, só devem ser
queimados sem que os passageiros estejam dentro.
Considerado pelos líderes do
PCC como um "irmão", Norambuena é tratado pela facção
como Comandante Ramiro ou
de "jefatura" (chefia, em espanhol) na prisão de segurança
máxima de Presidente Bernardes (589 km de SP).
Norambuena era o chefe de
um dos ramos da FPMR (Frente Patriótica Manuel Rodríguez), organização de extrema
esquerda que pregava a revolução socialista pelas armas, mas
que acabou se convertendo numa quadrilha que praticava crimes comuns.
Também foi nas conversas
mantidas em Presidente Bernardes, onde, mesmo em celas
individuais, os criminosos
mantêm diálogos aos gritos,
que Norambuena ensinou aos
homens do PCC táticas de como falar em códigos, principalmente durante as comunicações mantidas por celular.
Para alguns integrantes dos
grupos de inteligência das duas
secretarias, a "aproximação
ideológica" de Norambuena
com os líderes do PCC tem um
interesse muito claro: viabilizar, ao lado dos homens da facção, uma fuga do presídio de
Bernardes, onde vigora o RDD
(Regime Disciplinar Diferenciado), no qual o preso fica
trancado, sozinho, durante 22
horas por dia, e não tem acesso
a jornais, revistas e rádio, além
de não manter contato físico
com visitantes.
Em junho do ano passado,
agentes da Polícia Federal no
Rio de Janeiro descobriram um
plano no qual cerca de 80 homens, todos eles do PCC e da
facção criminosa carioca CV
(Comando Vermelho), pretendiam resgatar Norambuena de
Presidente Bernardes, juntamente com Marcos Willians
Herbas Camacho, o Marcola, líder máximo do PCC, e com o
traficante Luiz Fernando da
Costa, o Fernandinho Beira-Mar, à época preso com os dois
e chefes do CV.
Preso em Bernardes desde
março de 2003, Norambuena
foi condenado no Chile à prisão
perpétua duas vezes em 1992
-uma por liderar o seqüestro
de Cristián Edwards del Rio, filho do dono do jornal chileno
"El Mercúrio", e outra por participação no assassinato do senador Jaime Gúzman. Ele fugiu
da prisão Cárcel de Alta Seguridad em 1996, ao lado de três outros membros da FPMR.
O secretário da Administração Penitenciária, Antonio Ferreira Pinto, foi procurado pela Folha para falar sobre a ligação
de Norambuena com o PCC,
mas, segundo sua assessoria,
"disse que tinha de trabalhar."
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