São Paulo, segunda-feira, 14 de julho de 2008

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MOACYR SCLIAR

A maratona do sexo


Jorge sempre pensara na mulher como amante medíocre, mas agora se via obrigado a mudar de opinião

Americana presenteia marido com um ano de sexo diário. Uma americana que presenteou o marido com um ano de relações sexuais todos os dias acaba de lançar um livro em que conta a experiência.
Intitulado "365 Noites: Uma História de Intimidade", o livro foi escrito por Charla Muller, que vive com o marido, Brad, na Carolina do Norte. Charla fez a proposta para o marido quando ele completou 40 anos de idade. Ela ofereceu fazer sexo todos os dias durante um ano como um presente de aniversário. Segundo ela, eles estavam casados havia oito anos, tinham um casamento sólido e dois filhos, mas o sexo tinha caído na rotina. Por isso, decidiu fazer a oferta para o marido, que inicialmente recusou a proposta, mas concordou em seguida. Para cumprir a tarefa, o casal teve que criar um calendário diário para a atividade e algumas regras básicas: quando um dos dois estivesse viajando a trabalho, não teriam relações e não precisariam "repor" os dias "perdidos". Folha Online

Presente de grego: presente, dádiva ou oferta que traz prejuízo ou aborrecimento a quem o recebe. Dicionário Houaiss

DE UMA VIAGEM aos Estados Unidos Jorge trouxe de presente para Alice o livro de Charla Muller, contando sobre o presente que a autora americana tinha dado ao marido Brad: um ano de sexo diário. Jorge disse que o livro despertara sua curiosidade pelas coincidências: como Brad, ele havia acabado de completar 40 anos. Como Brad e Charla, eles estavam casados havia oito anos. Mas Alice viu naquilo uma insinuação. Fogoso, Jorge queixava-se de que ela nem sempre correspondia aos seus arroubos apaixonados. O que ele estava querendo, no fundo, era uma maratona sexual como aquela que Charla descrevia. Com o que ela, talvez em razão da culpa, mostrou-se de acordo. "Vamos repetir a proeza deles", disse, acrescentando: "Ainda que você não seja o Brad. O Brad Pitt, pelo menos".
No começo foi maravilhoso. E surpreendente. Jorge sempre pensara na mulher como amante medíocre, mas agora se via obrigado a mudar de opinião. Alice revelava-se um verdadeiro demônio na cama, a ponto de deixá-lo exausto. E preocupado. A verdade é que não estava numa boa fase de sua vida. Tinha muitos conflitos na empresa em que trabalhava -e isso, claro, se refletia em sua disposição para o sexo, que diminuíra consideravelmente. Por outro lado, não podia fazer uma desfeita à entusiasta mulher. Problemão, portanto, que teve uma inesperada solução: o chefe, percebendo que Jorge não estava bem na empresa, sugeriu que assumisse o cargo de supervisor, o que significaria viajar muito. Jorge aceitou, aliviado: estava matando dois coelhos com uma cajadada.
Com as viagens, o calendário sexual mudou, e ainda que Alice se mostrasse um tanto decepcionada, Jorge estava contente. Mas, então, no último daqueles 365 dias, algo aconteceu. No aeroporto, onde tomaria o avião para voltar para casa, conheceu uma moça. Atração imediata, o potencial começo de uma tórrida relação. Mas ele tinha de embarcar, e, depois de anotar o telefone e o e-mail da jovem, embarcou. A primeira coisa que fez, ao chegar em casa, foi pedir a Alice que prolongassem a maratona por mais um ano.


MOACYR SCLIAR escreve, às segundas-feiras, um texto de ficção baseado em notícias publicadas na Folha


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