São Paulo, terça-feira, 14 de julho de 2009

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Foco

Polícia Militar vai proibir bailes funk em favelas de áreas violentas do Rio

RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

A Polícia Militar vai usar uma lei de 2008 para impedir a realização de bailes funk em favelas de áreas violentas do Rio. Segundo a PM, traficantes organizam essas festas para atrair consumidores de drogas e aumentar os lucros.
Bailes no Morro dos Macacos (Vila Isabel) e do Salgueiro (Tijuca) já estão proibidos.
A lei que regula bailes funk e festas rave exige, entre outros pontos, autorização do comandante do batalhão local da Polícia Militar, que vai autorizar ou não a festa.
Para funkeiros, a decisão da polícia isola ainda mais as favelas e o funk do restante da sociedade e viola a liberdade de expressão.
"O que radicalizou o funk foi a proibição, nos anos 90, de os clubes terem festa. O baile foi para dentro da comunidade, e a favela passou a falar para a favela: as pessoas falam sobre o que vivem", disse o MC Leonardo Mota, presidente da Associação dos Profissionais e Amigos do Funk.
No último sábado, três pessoas foram mortas e seis ficaram feridas em tiroteio entre a polícia e traficantes no Morro dos Macacos, durante uma operação policial para coibir a venda de drogas durante um baile. Após o episódio, o novo comandante-geral da PM, Mário Sérgio Duarte, anunciou a medida.
O plano da PM é coibir as festas organizando um policiamento ostensivo antes de começar a aglomeração. A intenção é evitar que incidentes como o de sábado se repitam.
"Não dá para generalizar. Alguns bailes têm venda de drogas e desfiles de armas de fogo, mas a polícia precisa chegar antes e avisar a comunidade com antecedência que a festa está proibida", afirma o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PP).
"A PM procura coibir a realização de quaisquer eventos não autorizados, principalmente em que sabidamente ações criminosas são promovidas, como consumo e vendas de drogas, utilização de armas de fogo. Contudo, a ação policial é planejada para ser realizada antes do início do evento, procurando assim, evitar o confronto com criminosos armados", informou nota de ontem da polícia.
A ex-vereadora Verônica Costa, que se popularizou como a "Mãe Loura do Funk", critica a proibição.
"É a mesma coisa que uma mulher ser estuprada e quererem tirar a cama da casa. O que vão fazer 20 mil pessoas que não têm direito a lazer? Elas não têm condição de ir a uma boate em Ipanema. O certo seria a PM fazer a segurança do baile", disse ela, que apresenta shows de funk.
A PM já proibiu a realização de bailes funk nas favelas ocupadas pelas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora).
De acordo com MC Leonardo, policiais impedem jovens até de ouvir o ritmo musical.
"O preconceito é com o funk, como antigamente o sambista era preso. A favela não pode se expressar, que sempre dizem que é o tráfico. O funk não é julgado, é condenado desde o início. O que o jovem da favela, até o traficante, ouve, senão funk? O que o soldado PM escuta na festa? É funk!", protesta Leonardo, 34 anos, 17 de funk.


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