São Paulo, sábado, 14 de agosto de 2010

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FOCO

Último doente de paralisia infantil no país quer estudar educação física

RICARDO WESTIN
DE SÃO PAULO

Quem vê Deivson Gonçalves, 22, andando de moto ou se exercitando na academia em Sousa (sertão da Paraíba) não imagina que ele foi o último doente de paralisia infantil registrado no Brasil.
Ele contraiu o vírus quando tinha um ano e meio de idade. Passou cinco meses sem andar. No entanto, conseguiu se curar e hoje não guarda nenhuma sequela.
"Rapaz, eu penso no monte de gente que ficou com problema nas pernas, em cadeira de rodas, e vejo que sou uma pessoa abençoada", diz.
Deivson vem de uma família humilde. Seu pai é um fotógrafo de rua desempregado e sua mãe, dona de casa. É o caçula de quatro irmãos.
Ele foi acometido pela paralisia infantil em 1989.
A mãe, Devaneide Gonçalves, hoje com 46 anos, buscou socorro porque seu bebê, que já sabia andar, de uma hora para outra não conseguia manter-se de pé. E tinha uma febre que não passava.
"O médico disse que o caso era sério e que ele precisaria ir para João Pessoa", lembra.
Levando todos os filhos, ela buscou o Hospital Universitário. Diante do diagnóstico de paralisia infantil, Devaneide se desesperou.
Ela havia visto seu irmão de quatro anos agonizar até a morte por causa da paralisia. Temia que seu bebê tivesse o mesmo fim.
"Eu tinha 12 anos, mas me lembro bem. Ele teve uma febre forte e perdeu as forças. Morreu em uma semana."
O pai, João Bosco Gonçalves, hoje com 62 anos, trabalhava em São Paulo. Quando soube da notícia, pegou o primeiro ônibus para a Paraíba.

FISIOTERAPIA
Como não há remédio para a paralisia infantil, o pequeno Deivson aguardou o desenvolvimento da doença no hospital fazendo fisioterapia. Como ocorre na maior parte dos casos, curou-se. Foram necessários cinco meses.
"Ele, que estava todo molinho e não conseguia nem se sentar, foi ficando forte. Foi milagre de Deus", diz a mãe.
Ela havia levado o bebê para tomar todas as doses da vacina. Tem a caderneta para comprovar. Por isso, os médicos acreditam que a vacina estava estragada. Provavelmente não estava armazenada de forma adequada.
No ano passado, Deivson participou da campanha de vacinação contra a paralisia, convidado pela Secretaria da Saúde da Paraíba. "Digo aos pais que não podem deixar de vacinar seus filhos."
Foi a aparição na campanha que lhe garantiu trabalho num hospital de Sousa, como digitador. Com R$ 850 que ganha por mês, ajuda a família nas compras de supermercado e paga as prestações de sua moto.
Deivson está no curso pré-vestibular. Quer estudar educação física.


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