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FOCO
Último doente de paralisia infantil no país quer estudar educação física
RICARDO WESTIN
DE SÃO PAULO
Quem vê Deivson Gonçalves, 22, andando de moto ou
se exercitando na academia
em Sousa (sertão da Paraíba)
não imagina que ele foi o último doente de paralisia infantil registrado no Brasil.
Ele contraiu o vírus quando tinha um ano e meio de
idade. Passou cinco meses
sem andar. No entanto, conseguiu se curar e hoje não
guarda nenhuma sequela.
"Rapaz, eu penso no monte de gente que ficou com
problema nas pernas, em cadeira de rodas, e vejo que sou
uma pessoa abençoada", diz.
Deivson vem de uma família humilde. Seu pai é um fotógrafo de rua desempregado e sua mãe, dona de casa. É o caçula de quatro irmãos.
Ele foi acometido pela paralisia infantil em 1989.
A mãe, Devaneide Gonçalves, hoje com 46 anos, buscou socorro porque seu bebê,
que já sabia andar, de uma
hora para outra não conseguia manter-se de pé. E tinha
uma febre que não passava.
"O médico disse que o caso
era sério e que ele precisaria
ir para João Pessoa", lembra.
Levando todos os filhos,
ela buscou o Hospital Universitário. Diante do diagnóstico
de paralisia infantil, Devaneide se desesperou.
Ela havia visto seu irmão
de quatro anos agonizar até a
morte por causa da paralisia.
Temia que seu bebê tivesse o
mesmo fim.
"Eu tinha 12 anos, mas me
lembro bem. Ele teve uma febre forte e perdeu as forças.
Morreu em uma semana."
O pai, João Bosco Gonçalves, hoje com 62 anos, trabalhava em São Paulo. Quando
soube da notícia, pegou o primeiro ônibus para a Paraíba.
FISIOTERAPIA
Como não há remédio para
a paralisia infantil, o pequeno Deivson aguardou o desenvolvimento da doença no
hospital fazendo fisioterapia.
Como ocorre na maior parte
dos casos, curou-se. Foram
necessários cinco meses.
"Ele, que estava todo molinho e não conseguia nem se
sentar, foi ficando forte. Foi
milagre de Deus", diz a mãe.
Ela havia levado o bebê
para tomar todas as doses da
vacina. Tem a caderneta para
comprovar. Por isso, os médicos acreditam que a vacina
estava estragada. Provavelmente não estava armazenada de forma adequada.
No ano passado, Deivson
participou da campanha de
vacinação contra a paralisia,
convidado pela Secretaria da
Saúde da Paraíba. "Digo aos
pais que não podem deixar
de vacinar seus filhos."
Foi a aparição na campanha que lhe garantiu trabalho num hospital de Sousa,
como digitador. Com R$ 850
que ganha por mês, ajuda a
família nas compras de supermercado e paga as prestações de sua moto.
Deivson está no curso pré-vestibular. Quer estudar educação física.
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