São Paulo, terça-feira, 14 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Greve trava identificação de vítimas de homicídio

Ato de policiais atrapalha comparação de dados de vítimas com registros de desaparecidos

DHPP afirma que não conseguiu identificar nove corpos encontrados carbonizados desde o dia 12 de setembro

KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

A greve de policiais civis no Estado de São Paulo, que já dura quase um mês, prejudica o trabalho das delegacias especializadas na identificação das vítimas de assassinatos.
Como parte dos Distritos Policiais deixou de registrar boletins de ocorrência de pessoas desaparecidas -só fazem casos de homicídios e prisões em flagrantes-, policiais não têm como comparar os dados dos corpos encontrados, muitas vezes desfigurados, com as características físicas descritas nos registros de desaparecimentos.
O DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), que não aderiu ao movimento grevista, praticamente parou as investigações para identificar nove corpos encontrados carbonizados desde o dia 12 de setembro.
Segundo policiais civis do DHPP, que só aceitaram falar com a Folha sob anonimato, o número de BOs de desaparecidos registrados por dia na capital caiu de 30, antes da greve, para cerca de dez.
Além disso, o boletim eletrônico de desaparecidos, que é feito no site da Secretaria da Segurança Pública, pela internet, demora para chegar ao departamento e, muitas vezes, vem com falta de informações.
De acordo com um delegado do DHPP, toda investigação para identificar uma vítima de assassinato começa pela comparação com os casos de desaparecimentos. De posse do BO é possível, por exemplo, mapear se o corpo achado estava na mesma área da pessoa que desapareceu.
Outro ponto é comparar as características físicas e roupas da pessoa desaparecida com o dos corpos encontrados.
No caso dos nove corpos carbonizados, delegados do DHPP disseram que uma das alternativas adotadas pelas equipes de investigação do departamento é deslocar policiais para necrotérios. Lá, os investigadores procuram por familiares de pessoas desaparecidas que não conseguiram registrar BO do sumiço do parente no DP, devido à greve, e recorrem ao Serviço de Verificação de Óbito.
Outra possibilidade é aguardar o resultado do exame de DNA feito nos nove corpos. Mesmo assim, o material genético da vítima terá de ser comparado com o de parentes de pessoas desaparecidas.
A única certeza do DHPP é que os corpos carbonizados encontrados estavam em porta-malas ou no banco de trás de veículos roubados e furtados.

Greve
Ontem, o comando de greve dos policiais civis disse que pretende agora seguir o governador José Serra (PSDB) em eventos públicos e que deve fazer um protesto na quinta-feira perto do Palácio dos Bandeirantes. Os policiais pedem aumento salarial de 15%. O governo chegou a negociar 6,2% com a categoria.
O presidente da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil), Luiz Flávio Borges D'Urso, deve se encontrar amanhã com os secretários Sidney Beraldo, da Gestão Pública, e Ronaldo Marzagão, da Segurança Pública, para tentar negociar uma saída para pôr fim à greve.

Colaborou a Folha Online



Texto Anterior: Saiba mais: Criada em 2006, categoria tem 400 profissionais
Próximo Texto: Violência: Homicídios caem 9,6% no Estado do Rio em 12 meses
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.