|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Comer cachorro é um fato antropológico
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Que coreanos comam cachorros é um fato antropológico que não deveria causar
maior surpresa nem revolta.
Franceses deliciam-se com
cavalos e rãs, chineses devoram
tudo o que se mexe -aí inclusos escorpiões e gafanhotos- e
boa parte das coisas que não se
mexem também. Os papuas da
Nova Guiné, até algumas décadas atrás, fartavam-se no consumo ritual dos miolos de familiares mortos. Só pararam porque o hábito estava lhes passando o kuru, uma doença neurológica grave.
Nosso consolidadíssimo costume de comer vacas configura,
aos olhos dos hinduístas, nada
menos do que deicídio.
A não ser que estejamos
prontos a definir e impor um
universal alimentar, é preciso
tolerar as práticas culinárias
alheias, por mais exóticas ou
repugnantes que nos pareçam.
Nada disso justifica o abate,
por meios cruéis, de cães num
matadouro clandestino em Suzano. Mas, observadas as exigências humanitárias, de higiene e fiscais, não há por que impedir coreanos de seguir com
suas preferências culinárias.
A cidade de São Paulo conta
hoje com mais de 1,6 milhão de
cachorros. Por mais que simpatizemos com os cães, eles chegaram a uma situação de descontrole populacional, que precisa ser remediada.
É claro que não o faremos devorando os animais excedentes. Mas a solução tampouco virá de medidas populistas como
a lei paulista nº 12.916/08, que,
exceto em casos muito especiais, proibiu os órgãos de controle de zoonoses de proceder à
eutanásia de cães e gatos.
O resultado foi que esses serviços praticamente pararam de
recolher animais. Como a natureza segue seu curso, em vez de
ser sacrificados sem dor, eles
acabam morrendo vítimas de
atropelamentos e doenças.
Pesquisa de veterinários de
USP, Unip, Unicsul e Metodista
mostrou que, mesmo antes da
introdução da lei, os cães da região metropolitana de SP viviam só três anos, contra 9,9
nos EUA e 11 na Inglaterra.
O melhor caminho para resolver o problema é por meio
da castração, que precisa chegar a 70% para garantir a estabilidade da população canina.
Mas nada impede que os coreanos, na medida de suas possibilidades, auxiliem nessa tarefa.
Texto Anterior: Restaurante coreano burla vigilância e reabre Próximo Texto: Casa desaba, e mãe e filha morrem soterradas em MG Índice
|