UOL


São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VIDA DE CELEBRIDADE

Atrás do ídolo há sempre uma legião de "carentes" querendo tirar alguma vantagem com todo tipo de conversa

Famosos atraem flashes e enfrentam micos com "fãs"

PAULO SAMPAIO
LULIE MACEDO
DA REVISTA

Raul Cortez foi filmado por um vizinho de mictório fazendo xixi no banheiro do aeroporto. Gisele Bündchen teve de aguentar a companhia do filho de um comandante de avião que foi daqui a Los Angeles tentando convencê-la a ser modelo da confecção que ele pretendia abrir. Raí perdeu a conta de quantos vendedores de "dogão" pediram ajuda para comprar uma perua Topic".
A fama é assim: atrai flashes, capas de revista, glamour e muito mico. Ser celebridade é brilhar no paraíso do "aluguel" -e virar psicólogo, parceiro intelectual, sócio, objeto de macumba. Atores, modelos, jogadores de futebol, não existe famoso que não colecione histórias de gente que se aproxima para, nas palavras de Assunção, "engrupir o ídolo".
O ator não se esquece de um episódio particularmente tragicômico, da época em que a atriz Daniela Perez, que fazia seu par romântico na novela "Corpo e Alma", foi brutalmente assassinada.
"Eu estreei um espetáculo 20 dias depois com a Cristiana Oliveira e toda noite a gente convidava o público a participar de um abaixo-assinado pelo aumento da pena do réu primário. Um dia, uma mulher, que se dizia espírita, disse que tinha ido avisar que a Dani estava querendo "falar" comigo. Eu fui. Quando cheguei à casa da mulher, estava a família dela toda sentada em volta de uma mesa, tentando fazer "a comunicação". Era uma cilada."
No país do sincretismo religioso, da TV e do futebol, nada parece mais engenhoso do que juntar os três em um "golpe de mestre". Rodrigo Paiva, 39, assessor do craque Ronaldo, conta que há cerca de 20 dias um pai-de-santo se propôs a desfazer uma "macumba peruana", antes do jogo contra o Uruguai. Mas o "descarrego" só teria efeito se fosse arranjado no estádio, a poucos minutos do começo da partida. "Ele queria armar a pajelança na presença de 200 jornalistas do mundo todo."
O ex-meia e atual símbolo sexual Raí também tem um assessor para filtrar as propostas. Paulo Velasco, 24, diz que, de vez em quando, deixa passar um mico. Ele dá o exemplo de um rapaz que se apresentou como "designer de tênis" e queria mostrar "um projeto revolucionário" a Raí. "Dava para ver que o cara sonhava muito com aquilo, mas não tinha condição de executar o projeto."
O "designer de tênis" pelo menos formulou uma proposta. Muitas vezes, o que chega ao famoso é o "pedido bruto". Pedem-se casas, carros e dinheiro para negócios e consultas médicas. "Já me pediram de tudo, até tratamento dentário", diz o ator e produtor Miguel Falabella, 46.
Raul Cortez, 72, conta que tem de mandar outra pessoa fechar seus negócios para evitar que a fama seja incluída na conta. "Estou construindo uma casa e outro dia me apresentaram uma nota de R$ 80 mil por uma compra que não sairia por mais de R$ 10 mil."
Não é só a possibilidade de arrancar "algum" do astro que dá coragem ao "ser humano comum" de se aproximar. Muitas vezes, o aspirante à celebridade quer só ser capa da revista. "Tem gente que não sabe nem por que quer tanto ser famoso", diz o ator Diogo Vilela, 46. "Chega a ser infantil a necessidade que se tem de aparecer. Mais do que nunca, a sociedade quer ser incluída no champanhe dos artistas", diz.
Além do aspirante a "famoso capa de revista", uma outra categoria que gruda é a do aspirante a "famoso autor de teatro".
Segundo os atores, são "toneladas" de textos de gente que nem é do ramo. No desespero de conseguir cumplicidade, o aspirante a celebridade tenta "contracenar" com o personagem que o ator está vivendo na TV. Entra nesse segmento o intelectual que quer conversar sobre o espetáculo citando frases "bonitas", à altura do autor.
Diogo Vilela conta que tem o sujeito que "elogia com nojo" -a expressão verbal é positiva, a facial, negativa.
"Tem uma situação típica de agressividade, que eu chamo de hora da Cinderela. Você é convidado para uma festa e faz papel de atração principal, até que as pessoas ficam bêbadas e começam a te agredir", diz Raul Cortez. Para evitar o pior, ele descobriu uma estratégia -sair da festa no auge. Fácil saber a hora: um minuto antes de perder a vontade de rir.


Leia a íntegra da reportagem no site www.uol.com.br/revista


Texto Anterior: Gilberto Dimenstein: Por que a goleada de Lula é um engano
Próximo Texto: Transporte: Marta promete bilhete único até abril
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.