São Paulo, sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

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Prefeitos vão esperar chuva para esvaziar área de represa

Administradores contrariam orientação de Serra, que quer saída imediata de moradores

"Tirar famílias com tudo seco seria um conflito danado", diz prefeito de Bom Jesus dos Perdões, que poderá ser atingida por água de represa


Marcelo Justo/Folha Imagem
Garoto passeia de pedalinho em canal de residencial em SP

DA REPORTAGEM LOCAL

Cinco prefeituras das sete cidades que poderão ser atingidas pelo transbordamento das represas do sistema Cantareira, sob operação da Sabesp, não vão retirar ninguém previamente das áreas de risco, contrariando orientação do governador José Serra (PSDB), que quer a retirada imediata de moradores das áreas mais críticas. Ontem mesmo o governador afirmou que há famílias que, "provavelmente, precisam ser deslocadas agora".
A Folha ouviu os prefeitos de Piracaia, Nazaré Paulista, Bom Jesus dos Perdões, Atibaia e Franco da Rocha. As cidades de Vargem e Bragança Paulista podem ser atingidas, apesar de o risco ser baixo, de acordo com a Defesa Civil.
Em Bom Jesus dos Perdões, perto de Atibaia, o próprio prefeito Calé Rigimik (PSDB) mora em um condomínio ao lado do rio Atibainha, em uma área que pode ser inundada nos próximos dias, segundo a Sabesp. "Uma coisa é o governador dizer [que as famílias em zona de alto risco precisam ser retiradas]. Mas tentar tirar as famílias com tudo seco seria um conflito danado. Já retiramos 30 famílias de áreas já alagadas.
Outras 300 poderão ter de sair, inclusive a minha", diz Rigimik. Segundo a Defesa Civil do Estado, existem 750 famílias potencialmente atingidas em 56 áreas de risco. O prefeito de Atibaia, José Bernardo Denig (PV), diz que o plano da Defesa Civil municipal já está pronto.
Caso ocorra o transbordamento, a água em excesso vai demorar algumas horas para chegar a Atibaia, diz Denig. Neste caso, pelos menos 80 famílias terão de ser retiradas. "Estamos com uma previsão de chuva forte para amanhã [hoje], provavelmente em uma quantidade próxima a do dia 1º [de janeiro]. É possível que ocorram problemas", disse o prefeito. As cidades da região já podem ter alguns bairros atingidos mesmo que as represas, rio acima, não transbordem.
Só o aumento do fluxo do rio, por causa da abertura controlada das barragens, é suficiente para as enchentes. "Nos últimos anos, por causa da estiagem, as várzeas do rio acabaram ocupadas", diz Denig. A prefeita de Piracaia, Fabiane Santiago (PV), a cidade mais próxima das barragens administradas pela Sabesp, diz que não vê motivo para alarme. O município tem 400 famílias que podem ser atingidas.
Em Franco da Rocha, na Grande São Paulo, o rio Juqueri atravessa o município. Um aumento do nível dele cortaria a cidade ao meio, trazendo muito prejuízos materiais.
Ontem, Serra disse que, em uma situação extrema, a Defesa Civil do Estado poderá agir e retirar as pessoas. "Não existe motivo para pânico. Se a prevenção for bem feita minimiza-se incrivelmente qualquer espécie de tragédia", disse. (EDUARDO GERAQUE, DANIEL BERGAMASCO E CATIA SEABRA)


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