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Vizinho vigia prefeito para saber quando sair
Moradores de condomínio que está em área de risco em Bom Jesus dos Perdões dizem não ver necessidade de deixar o local
Local consta do mapa de áreas em risco entregue à Defesa Civil e que, para o governador José Serra, deveriam ser evacuadas
DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL
No condomínio Marinas, em
Bom Jesus dos Perdões (a 76
km de São Paulo), os moradores desenvolveram sua própria
estratégia para monitorar o risco de inundação caso as represas do sistema Cantareira
transbordem. Ficam de olho na
casa do prefeito Calé Riginik
(PSDB) para checar "se ele ainda está morando ali".
"Estamos assim, ó", afirma
Remegilda Bueno, formando
um binóculos com as mãos. "Se
ele sair, sabemos que é melhor
sair também."
O condomínio, de cem casas,
amplas e com piscinas, consta
do mapa de áreas em risco entregue pela Sabesp à Defesa Civil e que, para o governador José Serra (PSDB), deveriam ser
evacuadas imediatamente. A
prefeitura, contudo, diz que só
pedirá aos moradores que
saiam se a inundação estiver
prestes a acontecer.
"Já ergui meus móveis duas
vezes, por precaução, e um dia
fui com a família para uma casa
de amigos. Estou rezando para
não chover. Mas, por enquanto,
não acho necessário sair", diz
Fátima, moradora há sete anos.
O Marinas, quase ao lado da
rodovia Dom Pedro 1º, é vizinho ao rio Atibainha e cortado
por canais que dão a graça ao local -permitem atravessar o
condomínio em pedalinhos, canoas e caiaques. "Chamam aqui
de Veneza brasileira", diz, ao
portão do Recanto do Calé, a
primeira-dama, Catarina.
Sobre as cheias, ela conta que
"o prefeito já pegou um trator e
derrubou o muro de um clube
para que a água escoasse". Ele
diz: "Coloquei uma bermuda e
derrubei mesmo, porque me
deram autorização."
Por enquanto, dizem os moradores, as informações chegam pela mídia. "Ninguém veio
aqui falar nada sobre isso", diz o
gerente aposentado Luiz Carlos Galvani, 66.
"Sabemos das informações
pelos jornais, pelas conversas
dos vizinhos. Está todo mundo
preocupado, sabemos que a situação é grave. Se começar a ter
perigo, pego o carro e saio daqui. Mas os móveis, geladeira,
fogão, isso nem tem jeito de salvar", diz Galvani.
Os condôminos dizem que o
local nunca inundou. Por precaução, compraram terrenos
ao redor das casas, para aumento da área permeável. Ainda assim, recentemente, a água do
rio subiu e chegou à altura da
canela em alguns quintais.
Uma das ações dos moradores
foi levar os carros dali para o
acostamento da rodovia, para
evitar danos.
Gerson Coli, secretário de
Obras da cidade, diz que uma
decisão judicial de cinco anos
atrás regularizou o condomínio, que começou, segundo ele,
com ocupações irregulares,
sem licenças dos órgãos devidos (como a Cetesb). "A Justiça
decidiu que o local era regular,
então fornecemos os documentos", diz Coli, que já ocupava o
cargo na época.
Já o prefeito diz que o Marinas "sempre foi regular".
A poucos quilômetros dali,
um loteamento batizado de
Nova Veneza é um dos que já
sofrem com a inundação. "Ali,
ainda está tudo irregular. Há algumas famílias morando, mas o
Ministério Público embargou
novas construções", diz Coli.
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