São Paulo, sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

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Livro trata dos estilos da arquitetura de São Paulo a partir de suas escadas

MARIANA BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL

"Ninguém terá deixado de observar que frequentemente o chão se dobra", escreveu Julio Cortázar (1914-1984) em "Instruções para Subir uma Escada". O trecho acima, reproduzido na abertura do livro "Arquitetura pelas Escadas" (Ed. Estação Liberdade, R$ 39, 128 págs.), da fotógrafa e arquiteta Patricia Cardoso, é o primeiro degrau dessa obra que parte dos traços das escadas para tratar da arquitetura paulistana.
"O arquiteto costuma colocar todos os elementos em que acredita na escada que projeta. É a síntese do que ele pensa", diz a autora sobre por que decidiu se ater às escadas para abordar os diferentes estilos arquitetônicos presentes na cidade onde nasceu.
A série retratada traz exemplos de épocas e autores variados, dos degraus de 1883 do Museu Paulista, projetado pelo italiano Tommaso Gaudenzio Bezzi (1844-1915), até o amarelo vibrante que Isay Weinfeld usou na escada de uma livraria no shopping Cidade Jardim, em 2008.
Vilanova Artigas (1915-1985) aparece com a escada da casa onde vivia, paralela a uma parede de vidro. Também há projetos de seus discípulos Paulo Mendes da Rocha e Ruy Ohtake. Rocha, vencedor do prêmio Pritzker, o mais importante da arquitetura mundial, figura com uma escada móvel que pode ser fechada, servindo de entrada de uma loja. Já Ohtake é representado pela escada do Instituto Tomie Ohtake.
O livro traz ainda o traçado simples e curvilíneo de Oscar Niemeyer, com uma escada dupla do Memorial da América Latina, e o brutalismo de Lina Bo Bardi (1914-1992), exposto nos degraus baixos do subsolo do Masp.
Nessa escada, de laterais vermelhas e passagem de concreto aparente, Lina parece brincar com a ideia do tapete vermelho, criando, nas palavras de Patricia, um "tapete invertido", em que não se caminha pela extensão "luxuosa", mas pela parte "menos nobre".
Entre as escadas clássicas, aparecem os caracóis projetados em 1925 para a estação Júlio Prestes. Os degraus de mármore recebem iluminação dos vitrais, criação de Christiano Stockler das Neves (1889-1982), que foi prefeito de São Paulo e fundador da faculdade de arquitetura do Mackenzie.
Lançado no final de novembro, o livro também traz algumas rampas, hoje mais bem vistas que degraus por permitirem ampla acessibilidade. Ainda assim, segundo a autora, as escadas continuam sendo um elemento valorizado da arquitetura.
"As pessoas sempre vão precisar de uma ligação. E, simbolicamente, as escadas são muito fortes", afirma Patrícia.


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