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Livro trata dos estilos da arquitetura de São Paulo a partir de suas escadas
MARIANA BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Ninguém terá deixado de
observar que frequentemente o chão se dobra", escreveu
Julio Cortázar (1914-1984)
em "Instruções para Subir
uma Escada". O trecho acima,
reproduzido na abertura do
livro "Arquitetura pelas Escadas" (Ed. Estação Liberdade,
R$ 39, 128 págs.), da fotógrafa
e arquiteta Patricia Cardoso,
é o primeiro degrau dessa
obra que parte dos traços das
escadas para tratar da arquitetura paulistana.
"O arquiteto costuma colocar todos os elementos em
que acredita na escada que
projeta. É a síntese do que ele
pensa", diz a autora sobre por
que decidiu se ater às escadas
para abordar os diferentes estilos arquitetônicos presentes na cidade onde nasceu.
A série retratada traz
exemplos de épocas e autores
variados, dos degraus de 1883
do Museu Paulista, projetado
pelo italiano Tommaso Gaudenzio Bezzi (1844-1915), até
o amarelo vibrante que Isay
Weinfeld usou na escada de
uma livraria no shopping Cidade Jardim, em 2008.
Vilanova Artigas (1915-1985) aparece com a escada
da casa onde vivia, paralela a
uma parede de vidro. Também há projetos de seus discípulos Paulo Mendes da Rocha
e Ruy Ohtake. Rocha, vencedor do prêmio Pritzker, o
mais importante da arquitetura mundial, figura com uma
escada móvel que pode ser fechada, servindo de entrada de
uma loja. Já Ohtake é representado pela escada do Instituto Tomie Ohtake.
O livro traz ainda o traçado
simples e curvilíneo de Oscar
Niemeyer, com uma escada
dupla do Memorial da América Latina, e o brutalismo de
Lina Bo Bardi (1914-1992),
exposto nos degraus baixos
do subsolo do Masp.
Nessa escada, de laterais
vermelhas e passagem de
concreto aparente, Lina parece brincar com a ideia do tapete vermelho, criando, nas
palavras de Patricia, um "tapete invertido", em que não
se caminha pela extensão "luxuosa", mas pela parte "menos nobre".
Entre as escadas clássicas,
aparecem os caracóis projetados em 1925 para a estação
Júlio Prestes. Os degraus de
mármore recebem iluminação dos vitrais, criação de
Christiano Stockler das Neves (1889-1982), que foi prefeito de São Paulo e fundador
da faculdade de arquitetura
do Mackenzie.
Lançado no final de novembro, o livro também traz
algumas rampas, hoje mais
bem vistas que degraus por
permitirem ampla acessibilidade. Ainda assim, segundo a
autora, as escadas continuam
sendo um elemento valorizado da arquitetura.
"As pessoas sempre vão
precisar de uma ligação.
E, simbolicamente, as escadas são muito fortes", afirma
Patrícia.
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