São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2004

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A divisão, que está no Atlas Ambiental do município, leva em conta fatores como uso e ocupação do solo e áreas verdes

São Paulo tem 77 microclimas diferentes

DA REPORTAGEM LOCAL

Em 1554, o planalto de Piratininga, onde Anchieta construiu o colégio que deu origem a São Paulo, era uma região de temperaturas estáveis, mais fria, onde, além dos pinheiros (daí o nome do rio que corta a cidade), predominavam quatro climas que se dividiam, por causa de fatores como relevo, altitude e circulação dos ventos, em 26 microclimas.
Passaram-se 450 anos, e os paulistanos hoje vivem num mosaico de 77 microclimas (restritos a áreas específicas) que reflete uma urbanização e ocupação do solo desigual, desordenada e ambientalmente despreocupada.
A divisão está no Atlas Ambiental do Município de São Paulo, feito pelas secretarias municipais do Verde e do Meio Ambiente e do Planejamento, com financiamento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Ela foi além do conceito tradicional de clima, somando a ele características sociológicas.
Na atualização do mapa dos climas naturais, foram fundamentais fatores como o tipo dominante de construção (vertical ou horizontal), a presença de bairros-jardins, a predominância de comércio ou indústria, a existência de importantes vias de tráfego, favelas, grandes parques ou áreas de proteção ambiental (APAs).
As principais distinções entre os microclimas dizem respeito à temperatura e ao conforto térmico (muito calor no verão e muito frio no inverno). "Mas as pessoas também podem sentir diferenças na ventilação, na umidade e na concentração de poluição", diz Patricia Marra Sepe, chefe da assessoria técnica da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente.

Grande unidades climáticas
Para efeito de climas urbanos, a cidade foi dividida em quatro grandes unidades, mais homogêneas no tipo de ocupação e nos atributos naturais. No interior delas, ocorrem as subdivisões.
A Unidade Climática Urbana Central abrange todo o centro expandido, mais distritos que estão fora do anel formado pelas marginais Tietê e Pinheiros, como Morumbi, Butantã, Pirituba, Tucuruvi, Vila Maria, Vila Guilherme e Santana. Nela, os principais fatores condicionantes do clima são as densidades de prédios, carros e atividades econômicas. É dentro dela que estão as ilhas de calor.
Na Unidade Climática Urbana Periférica estão as regiões mais afastadas do centro, onde se concentram as favelas e os conjuntos habitacionais populares, nos extremos leste, norte e oeste, além dos distritos à beira das represas Billings e Guarapiranga. Quem vive nesses locais enfrenta principalmente o desconforto térmico.
À Unidade Climática do Urbano Fragmentado pertence o extremo sul da cidade (Marsilac e Parelheiros), onde a ocupação é rarefeita e predomina um clima mais frio e úmido -o mesmo que domina a Unidade Climática Não-Urbana, onde está apenas a APA Capivari-Monos, também no extremos sul da cidade.
Para chegar ao mapa dos 77 microclimas, o geógrafo José Roberto Tarifa, professor aposentado da USP, sobrepôs no mapa dos climas naturais os dados de uso e ocupação do solo, além de informações sobre qualidade do ar, dados resultantes de medições de temperatura in loco e imagens de satélite do calor superficial.
(MARIANA VIVEIROS)


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