São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 1998

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Santos Dumont não gostava de 13 nem de 8




ANNA LEE
da Sucursal do Rio

Para Jorge Henrique Dumont Dodsworth, 71, sobrinho-neto de Santos Dumont, " é curioso" que o aeroporto Santos Dumont tenha pegado fogo numa sexta-feira 13 de 1998. "O tio Alberto iria com certeza achar que o dia era de azar."
De toda forma, lembrou que o azar não foi tanto, uma vez que o painel com o retrato de Santos Dumont ficou intacto.
A Encantada, a casa de Santos Dumont, na rua do Encanto, em Petrópolis (RJ), é a maior prova de que ele era um homem supersticioso.
Lá, a escada da porta de entrada foi construída de forma que no primeiro degrau só é possível pisar com o pé direito. A escada que leva ao jirau onde Santos Dumont dormia também termina de maneira que a pessoa é obrigada a pisar primeiro com o pé direito.
"As histórias sobre o tio Alberto que são comentadas na família realmente confirmam a fama de supersticioso que ele tinha."
Ele disse que "era muito pequeno" quando o tio morreu (tinha seis anos em 1932), mas que se lembra bem de Santos Dumont, porque sempre que estava no Rio, ele se hospedava na casa de seu pai.
Dodsworth é neto de Henrique Dumont, irmão mais velho de Santos Dumont.
"Das superstições que tinha, me recordo que ele jamais colocava chapéu em cima da cama, e ficava aborrecido se alguém o fizesse."
O número oito também foi alvo da superstição de Santos Dumont. "Ele achava que dava azar", disse Dodsworth.
Não é a toa que na sua série de máquinas voadoras pulou do dirigível sete para o dirigível nove. De todos os acidentes que sofreu durante as experimentações de suas engenhocas voadoras, o mais grave foi justo em 1898, em Paris.
De tanta superstição, Santos Dumont acabou ganhando fama de azarento no mundo da aviação. Conta-se que entre os profissionais da área é costume bater três vezes na madeira sempre que o nome dele é pronunciado.
Também é parte do arsenal de histórias sobre o pai da aviação a que, durante a construção do prédio do aeroporto Santos Dumont, os arquitetos do projeto nunca ousaram colocar as iniciais SD nas plantas, preferiam as AD, que não significava nada, mas servia como medida de prevenção contra a má sorte.
"Ele era um homem que, mesmo desafiando o ar com seus inventos, parecia temer os mistérios do céu", disse Dodsworth, lembrando que o tio passava horas no terraço da casa em Petrópolis observando as estrelas com sua luneta.
"Aposto que ele nunca as apontava, todo mundo sabe que dá azar e faz nascer verrugas na ponta do dedo. Não seria ele que desafiaria essa crendice popular". disse Dodsworth.



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