São Paulo, domingo, 15 de abril de 2001

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100 DIAS

Carlos Zarattini afirma que regulamentar número de peruas na cidade e pensar no sistema são funções da prefeitura

Para secretário, usuário despreza o futuro

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário municipal dos Transportes, o ex-deputado estadual Carlos Zarattini (PT), admite que os posicionamentos da administração petista em relação às lotações não coincidem com a opinião da maioria dos paulistanos, conforme mostra a última pesquisa Datafolha.
A justificativa, segundo o secretário, é que a população só tem uma visão de momento.
"Ela analisa o impacto direto sobre a sua vida", diz. "Do ponto de vista geral, a gente tem que pensar no futuro do sistema", afirma.
Zarattini rebate a opinião dos que percebem avanço na qualidade do transporte das peruas. Segundo ele, quem diz isso deve estar tomando como referência apenas os ônibus.
"Na comparação (com os ônibus), a perua se consolidou. Mas a realidade é que ela vem piorando e aumentando a insegurança de todos", afirma o secretário.
Sobre a elevação do número de lotações em São Paulo nos primeiros três meses da gestão Marta Suplicy (opinião de 57% dos entrevistados na pesquisa Datafolha), o secretário afirma: "É mais um problema de mídia do que de realidade."
Leia a seguir os principais trechos da entrevista à Folha concedida na última quarta-feira:

Folha - A pesquisa Datafolha mostra que, para 57% dos entrevistados, a quantidade de peruas aumentou na gestão da prefeita Marta Suplicy. Por quê?
Carlos Zarattini
- Esse resultado é mais um fruto da polêmica que estamos tendo em relação aos perueiros e menos de um aumento efetivo. É mais um problema de mídia do que de realidade. Não temos observado novos perueiros entrando na cidade. E a venda de peruas, pelo que a gente tem de informação, está baixa.

Folha - O crescimento no uso das lotações é um problema para a política de transportes?
Zarattini
- O problema não é o uso da lotação. Mas as linhas de lotação, quando sobrepostas ao sistema regular, são um problema, pois não funcionam de forma organizada. Existe uma concorrência que não é desejável.

Folha - Por que os usuários estão mais satisfeitos com as lotações? A qualidade melhorou?
Zarattini
- Não acredito nisso. Piorou e muito. O CPTran (Comando de Policiamento de Trânsito) chegou a aprender mais de 50 peruas por causa das más condições dos veículos. A tendência é piorar. O que eu acredito é que as pessoas fazem comparações. O ônibus realmente não melhorou. Na comparação, a perua se consolidou, mas a realidade é que ela vem piorando e aumentando a insegurança.

Folha - A maioria dos que rejeitam as lotações ganha mais de 20 salários mínimos, tem nível superior e costuma usar carro. A visão de que as peruas são prejudiciais não é uma posição elitista?
Zarattini
- Se nós deixarmos o sistema ao bel-prazer, vamos ter substituição do sistema de ônibus pelo sistema de lotação. Isso é o fim do sistema de transporte em São Paulo.
Vamos nos igualar a cidades como Lima (Peru), La Paz (Bolívia), Caracas (Venezuela), onde não existe um sistema, a situação do transporte é horrorosa e o trânsito ainda pior.

Folha - Qual é a diferença entre a opinião da população e a da atual administração?
Zarattini
- A opinião da população é sobre seu efeito direito, ela analisa o impacto direto sobre a sua vida.
Nós temos que levar em conta uma visão geral, a visão do sistema como um todo, em uma cidade de 10 milhões de habitantes. Se eu fosse avaliar do ponto de vista individual, que cada um dos pesquisados avaliou, talvez eu tivesse a mesma opinião. Mas, olhando do ponto de vista geral, a gente tem que pensar no futuro do sistema.

Folha - A lei estabelece a existência de apenas 4.042 lotações na cidade. Durante a campanha, a prefeita Marta Suplicy disse que esse número poderia aumentar. A prefeitura vai permitir, em algum momento, a circulação de mais peruas?
Zarattini
- Isso só vai ser definido quando a gente tiver controle do sistema de transporte. Daí vamos poder dizer se em algum lugar é necessário colocar mais uma, mais duas ou mais dez peruas. Isso vai acontecer no prazo de pelo menos seis meses. A nova licitação já vai ajudar a definir muita coisa.


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