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100 DIAS
Carlos Zarattini afirma que regulamentar número de peruas na cidade e pensar no sistema são funções da prefeitura
Para secretário, usuário despreza o futuro
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
O secretário municipal dos
Transportes, o ex-deputado estadual Carlos Zarattini (PT), admite
que os posicionamentos da administração petista em relação às lotações não coincidem com a opinião da maioria dos paulistanos,
conforme mostra a última pesquisa Datafolha.
A justificativa, segundo o secretário, é que a população só tem
uma visão de momento.
"Ela analisa o impacto direto sobre a sua vida", diz. "Do ponto de
vista geral, a gente tem que pensar
no futuro do sistema", afirma.
Zarattini rebate a opinião dos
que percebem avanço na qualidade do transporte das peruas. Segundo ele, quem diz isso deve estar tomando como referência
apenas os ônibus.
"Na comparação (com os ônibus), a perua se consolidou. Mas a
realidade é que ela vem piorando
e aumentando a insegurança de
todos", afirma o secretário.
Sobre a elevação do número de
lotações em São Paulo nos primeiros três meses da gestão Marta Suplicy (opinião de 57% dos
entrevistados na pesquisa Datafolha), o secretário afirma: "É mais
um problema de mídia do que de
realidade."
Leia a seguir os principais trechos da entrevista à Folha concedida na última quarta-feira:
Folha - A pesquisa Datafolha
mostra que, para 57% dos entrevistados, a quantidade de peruas aumentou na gestão da prefeita Marta Suplicy. Por quê?
Carlos Zarattini - Esse resultado
é mais um fruto da polêmica que
estamos tendo em relação aos perueiros e menos de um aumento
efetivo. É mais um problema de
mídia do que de realidade. Não temos observado novos perueiros
entrando na cidade. E a venda de
peruas, pelo que a gente tem de
informação, está baixa.
Folha - O crescimento no uso das
lotações é um problema para a política de transportes?
Zarattini - O problema não é o
uso da lotação. Mas as linhas de
lotação, quando sobrepostas ao
sistema regular, são um problema, pois não funcionam de forma
organizada. Existe uma concorrência que não é desejável.
Folha - Por que os usuários estão
mais satisfeitos com as lotações? A
qualidade melhorou?
Zarattini - Não acredito nisso.
Piorou e muito. O CPTran (Comando de Policiamento de Trânsito) chegou a aprender mais de
50 peruas por causa das más condições dos veículos. A tendência é
piorar. O que eu acredito é que as
pessoas fazem comparações. O
ônibus realmente não melhorou.
Na comparação, a perua se consolidou, mas a realidade é que ela
vem piorando e aumentando a insegurança.
Folha - A maioria dos que rejeitam as lotações ganha mais de 20
salários mínimos, tem nível superior e costuma usar carro. A visão
de que as peruas são prejudiciais
não é uma posição elitista?
Zarattini - Se nós deixarmos o
sistema ao bel-prazer, vamos ter
substituição do sistema de ônibus
pelo sistema de lotação. Isso é o
fim do sistema de transporte em
São Paulo.
Vamos nos igualar a cidades como Lima (Peru), La Paz (Bolívia),
Caracas (Venezuela), onde não
existe um sistema, a situação do
transporte é horrorosa e o trânsito ainda pior.
Folha - Qual é a diferença entre a
opinião da população e a da atual
administração?
Zarattini - A opinião da população é sobre seu efeito direito, ela
analisa o impacto direto sobre a
sua vida.
Nós temos que levar em conta
uma visão geral, a visão do sistema como um todo, em uma cidade de 10 milhões de habitantes. Se
eu fosse avaliar do ponto de vista
individual, que cada um dos pesquisados avaliou, talvez eu tivesse
a mesma opinião. Mas, olhando
do ponto de vista geral, a gente
tem que pensar no futuro do sistema.
Folha - A lei estabelece a existência de apenas 4.042 lotações na cidade. Durante a campanha, a prefeita Marta Suplicy disse que esse
número poderia aumentar. A prefeitura vai permitir, em algum momento, a circulação de mais peruas?
Zarattini - Isso só vai ser definido quando a gente tiver controle
do sistema de transporte. Daí vamos poder dizer se em algum lugar é necessário colocar mais
uma, mais duas ou mais dez peruas. Isso vai acontecer no prazo
de pelo menos seis meses. A nova
licitação já vai ajudar a definir
muita coisa.
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