São Paulo, segunda-feira, 15 de maio de 2006

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GUERRA URBANA

Segundo eles, a Secretaria da Segurança Pública não alertou sobre reação do PCC; despreparo das bases é maior problema, dizem

Policiais afirmam que não foram alertados

ALFREDO FEIERABEND
DA REDAÇÃO

Policiais civis entrevistados ontem dizem que não houve alerta da Secretaria da Segurança Pública sobre a reação do PCC às transferências de seus principais líderes. Um deles, que não quis se identificar, afirmou que esse teria sido o maior problema no confronto, que pegou as bases despreparadas.
Outros dois policiais civis, que também preferiram não ser identificados, diziam não ter sido alertados, mas tentavam defender a secretaria dizendo que é o "preço que se paga por estar na polícia". "Convivemos com a violência diariamente. Temos sempre de estar preparados", afirmou um dos delegados do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado).
Segundo ele, o trabalho vai continuar como sempre foi, ou seja, com o mesmo número de investigações de antes dos ataques. Em duas horas na sede do Deic, na zona norte, de São Paulo, pelo menos duas equipes, fortemente armadas, saíram para rondas.
Em conversa com um policial civil, que usava terno, colete à prova de balas e um broche da Secretaria da Segurança, ficou evidenciado também um desconforto entre os policiais civis e militares. Para ele, é "um absurdo" a PM sair em dois carros, às vezes três, para fazer as rondas. "O que é isso, estamos em estado de guerra ou é covardia?", questionou. Para os policiais civis, outro problema acarretado pelos ataques é que qualquer crime que aconteceu ou aconteça nesses dias será atribuído ao PCC.
Por volta das 18h30, outros policiais chegavam para o plantão. Um deles, que faria o turno de 19h às 4h -horário em que ocorreu a maioria dos ataques-, reconheceu que a atenção tinha de ser redobrada. Questionado se sabia que a Secretaria da Segurança Pública tinha conhecimento que uma violenta reação do PCC podia acontecer, disse: "Esse é um problema de cúpula. O ruim é que a gente é o último a saber".

Mães apreensivas
As mães dos policiais também sofreram com os ataques. "Fui almoçar com minha mãe hoje [domingo] e ela implorou para que eu não fosse trabalhar. Infelizmente, esses atentados estão atingindo nossas famílias, que não param de nos ligar", disse um major da PM.
Essa sensação tomou conta também de Maria, 45, que não dorme desde sexta-feira, quando o marido, um policial militar, foi ferido no abdômen. Nas poucas horas em que conseguiu dormir, teve pesadelos. "Sonhei que metralhavam a minha família toda. Assim que ele sair dessa, vou convencê-lo a mudar de vida."
Guardas municipais que trabalhavam ontem em uma base na zona leste disseram que o clima era tenso. "A família liga constantemente", disse um deles.


Colaboraram KLEBER TOMAZ, da Reportagem Local, e THARSILA PRATES, do "Agora"

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