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VIOLÊNCIA NO RIO
Funcionários do Souza Aguiar e equipe policial que transportou sequestrador prestarão depoimento hoje
Policiais pressionaram médicos de hospital
PEDRO DANTAS
DA SUCURSAL DO RIO
A ausência de perfurações a bala
no corpo do homem que sequestrou dez passageiros de um ônibus na zona sul do Rio, segunda-feira, surpreendeu os cinco policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais) que o transportaram para o hospital municipal
Souza Aguiar, no centro.
Os policiais estão detidos desde
terça-feira, acusados de matar o
sequestrador, identificado pela
polícia como Sandro do Nascimento, por asfixia.
Funcionários do hospital Souza
Aguiar confirmaram à Folha que
os policiais entregaram o corpo
afirmando que se tratava de uma
vítima de PAF (perfuração por arma de fogo). Ao verem que os médicos não constataram qualquer
perfuração, eles ficaram muito
nervosos e ameaçaram invadir o
necrotério, onde o corpo esperava
remoção para o IML (Instituto
Médico Legal).
Os médicos que estavam de
plantão na noite de segunda-feira
e os cinco policiais que levaram o
corpo foram convocados a prestar depoimento hoje na 15ª Delegacia de Polícia, na Gávea (zona
sul), que está investigando o caso.
A delegada Martha Rocha, da
15ª DP, requereu também os boletins de atendimento do Souza
Aguiar e do hospital Miguel Couto, para onde foi levada a refém
Geísa Firmo Gonçalves.
Os funcionários disseram que
não houve ameaça de morte ou de
violência física contra os médicos.
Ontem, a direção do Souza
Aguiar orientou verbalmente a
equipe para que não comentasse
o assunto com jornalistas.
Os funcionários do Souza
Aguiar ouvidos pela Folha contaram que o corpo chegou ao hospital às 19h15 de segunda-feira.
Aparentemente, os policiais
acreditavam que o sequestrador
tinha sido ferido pelos dois disparos da submetralhadora do soldado Marcelo Oliveira dos Santos,
quando apenas a refém Geísa foi
atingida por um dos tiros.
Seguindo os procedimentos do
hospital, o corpo de Nascimento,
mesmo sem pulso, foi levado à sala de ressuscitação, dotada de um
minicentro cirúrgico, no segundo
andar do Souza Aguiar.
Lá, os médicos de plantão constataram que Nascimento já estava
morto e que não havia sinais de
perfuração em seu corpo. No boletim de atendimento, como é
praxe em situações do tipo, registraram que ele deu "entrada como cadáver".
Ao se darem conta de que foram
os responsáveis pela morte do sequestrador, os policiais "ficaram
muito nervosos, desesperados",
na descrição de um funcionário.
Quando o corpo já tinha sido levado para o necrotério, o chefe da
segurança subiu ao segundo andar pedindo que os médicos o liberassem rápido. Ele dizia que os
policiais queriam entrar no necrotério, supostamente para atirar no cadáver.
Sentindo-se pressionado, o chefe do plantão ligou para a diretora
do hospital, Maria Emília Amaral,
que acionou o secretário municipal de Saúde, Raul Gazolla.
Um coronel da PM, segundo os
funcionários, compareceu rapidamente no hospital, acalmou os
policiais e contornou a situação.
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