São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VIOLÊNCIA NO RIO
Funcionários do Souza Aguiar e equipe policial que transportou sequestrador prestarão depoimento hoje
Policiais pressionaram médicos de hospital

PEDRO DANTAS
DA SUCURSAL DO RIO

A ausência de perfurações a bala no corpo do homem que sequestrou dez passageiros de um ônibus na zona sul do Rio, segunda-feira, surpreendeu os cinco policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais) que o transportaram para o hospital municipal Souza Aguiar, no centro.
Os policiais estão detidos desde terça-feira, acusados de matar o sequestrador, identificado pela polícia como Sandro do Nascimento, por asfixia.
Funcionários do hospital Souza Aguiar confirmaram à Folha que os policiais entregaram o corpo afirmando que se tratava de uma vítima de PAF (perfuração por arma de fogo). Ao verem que os médicos não constataram qualquer perfuração, eles ficaram muito nervosos e ameaçaram invadir o necrotério, onde o corpo esperava remoção para o IML (Instituto Médico Legal).
Os médicos que estavam de plantão na noite de segunda-feira e os cinco policiais que levaram o corpo foram convocados a prestar depoimento hoje na 15ª Delegacia de Polícia, na Gávea (zona sul), que está investigando o caso.
A delegada Martha Rocha, da 15ª DP, requereu também os boletins de atendimento do Souza Aguiar e do hospital Miguel Couto, para onde foi levada a refém Geísa Firmo Gonçalves.
Os funcionários disseram que não houve ameaça de morte ou de violência física contra os médicos. Ontem, a direção do Souza Aguiar orientou verbalmente a equipe para que não comentasse o assunto com jornalistas.
Os funcionários do Souza Aguiar ouvidos pela Folha contaram que o corpo chegou ao hospital às 19h15 de segunda-feira.
Aparentemente, os policiais acreditavam que o sequestrador tinha sido ferido pelos dois disparos da submetralhadora do soldado Marcelo Oliveira dos Santos, quando apenas a refém Geísa foi atingida por um dos tiros.
Seguindo os procedimentos do hospital, o corpo de Nascimento, mesmo sem pulso, foi levado à sala de ressuscitação, dotada de um minicentro cirúrgico, no segundo andar do Souza Aguiar.
Lá, os médicos de plantão constataram que Nascimento já estava morto e que não havia sinais de perfuração em seu corpo. No boletim de atendimento, como é praxe em situações do tipo, registraram que ele deu "entrada como cadáver".
Ao se darem conta de que foram os responsáveis pela morte do sequestrador, os policiais "ficaram muito nervosos, desesperados", na descrição de um funcionário.
Quando o corpo já tinha sido levado para o necrotério, o chefe da segurança subiu ao segundo andar pedindo que os médicos o liberassem rápido. Ele dizia que os policiais queriam entrar no necrotério, supostamente para atirar no cadáver.
Sentindo-se pressionado, o chefe do plantão ligou para a diretora do hospital, Maria Emília Amaral, que acionou o secretário municipal de Saúde, Raul Gazolla.
Um coronel da PM, segundo os funcionários, compareceu rapidamente no hospital, acalmou os policiais e contornou a situação.


Texto Anterior: Batalhão havia pedido compra de fuzis
Próximo Texto: Anistia critica desfecho no Rio
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.