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Para especialistas, facção quer "dar recado"
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
O degolamento de cinco presos
pelo PCC em Presidente Venceslau é um recado para que todos
saibam da existência dessa facção
criminosa e para mostrar quem
manda. Esse pensamento é compartilhado pelo promotor Roberto Porto, 36, do Gaerco (Grupo de
Atuação Especial de Combate ao
Crime Organizado), e por Guaracy Mingardi, 50, diretor científico do Ilanud (Instituto Latino-Americano das Nações Unidas
para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente).
"O PCC perdeu força em razão
do combate feito pelo Estado.
Agora, ele está tentando retomar
seu poder", disse o promotor. Já
segundo Mingardi, hoje são as
facções que determinam para onde o preso vai e não mais o Estado.
"O Estado é obrigado a colocar os
integrantes da facção numa mesma penitenciária", disse. O desrespeito a essa "regra" explicaria
os assassinatos de ontem.
Para o presidente do IBCcrim,
(Instituto Brasileiro de Ciências
Criminais), Maurício Zanoide de
Moraes, 38, as mortes são um efeito esperado dessa disputa entre
facções. "As pessoas que formam
um negócio criminoso não têm limite de comportamento."
Ele disse que, sempre que as facções brigam, há um reflexo social.
"Se um líder é assassinado, o poder é pulverizado e passa a haver
uma disputa interna. Novas facções podem surgir a partir disso."
Segundo o ex-secretário nacional de Segurança Pública e coronel da reserva da Polícia Militar
José Vicente da Silva Filho, as facções criminosas perderiam força
se o governo já tivesse implantado
um sistema de informação sobre
os criminosos e seus contatos.
"Seria possível monitorar pessoas
e suas relações, ver a movimentação da conta bancária e telefonemas. A partir dessas informações,
sairia a decisão sobre em que cela
e penitenciária colocá-lo", disse.
Para acabar com as facções, seria necessário impedir o ganho
econômico com o crime organizado, na opinião do presidente do
IBCcrim. "As facções criminosas
são criadas nas penitenciárias,
primeiramente, para garantir a
sobrevivência dentro do cárcere."
Segundo o promotor Roberto
Porto, o crime organizado requer
um combate diário, porém São
Paulo ainda pode ser considerado
um modelo se comparado com
outros Estados. "O sistema penitenciário aqui é mais humano,
principalmente em relação à tortura, e é menos corrupto", disse.
Após a prisão de Edson Cholbi
Nascimento, o Edinho, e de Ronaldo Duarte Barsotti de Freitas, o
Naldinho, apontado como chefe
do tráfico na Baixada Santista,
Santos passou a ser comparada ao
Rio. Mingardi, entretanto, acha
que a cidade paulista só ficará de
fato semelhante ao Rio em criminalidade se não houver ação do
Estado para impedir. "Santos é
muito menor. O Estado tem mais
formas de intervir."
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