São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 2005

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Para especialistas, facção quer "dar recado"

AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL

O degolamento de cinco presos pelo PCC em Presidente Venceslau é um recado para que todos saibam da existência dessa facção criminosa e para mostrar quem manda. Esse pensamento é compartilhado pelo promotor Roberto Porto, 36, do Gaerco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), e por Guaracy Mingardi, 50, diretor científico do Ilanud (Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente).
"O PCC perdeu força em razão do combate feito pelo Estado. Agora, ele está tentando retomar seu poder", disse o promotor. Já segundo Mingardi, hoje são as facções que determinam para onde o preso vai e não mais o Estado. "O Estado é obrigado a colocar os integrantes da facção numa mesma penitenciária", disse. O desrespeito a essa "regra" explicaria os assassinatos de ontem.
Para o presidente do IBCcrim, (Instituto Brasileiro de Ciências Criminais), Maurício Zanoide de Moraes, 38, as mortes são um efeito esperado dessa disputa entre facções. "As pessoas que formam um negócio criminoso não têm limite de comportamento."
Ele disse que, sempre que as facções brigam, há um reflexo social. "Se um líder é assassinado, o poder é pulverizado e passa a haver uma disputa interna. Novas facções podem surgir a partir disso."
Segundo o ex-secretário nacional de Segurança Pública e coronel da reserva da Polícia Militar José Vicente da Silva Filho, as facções criminosas perderiam força se o governo já tivesse implantado um sistema de informação sobre os criminosos e seus contatos. "Seria possível monitorar pessoas e suas relações, ver a movimentação da conta bancária e telefonemas. A partir dessas informações, sairia a decisão sobre em que cela e penitenciária colocá-lo", disse.
Para acabar com as facções, seria necessário impedir o ganho econômico com o crime organizado, na opinião do presidente do IBCcrim. "As facções criminosas são criadas nas penitenciárias, primeiramente, para garantir a sobrevivência dentro do cárcere."
Segundo o promotor Roberto Porto, o crime organizado requer um combate diário, porém São Paulo ainda pode ser considerado um modelo se comparado com outros Estados. "O sistema penitenciário aqui é mais humano, principalmente em relação à tortura, e é menos corrupto", disse.
Após a prisão de Edson Cholbi Nascimento, o Edinho, e de Ronaldo Duarte Barsotti de Freitas, o Naldinho, apontado como chefe do tráfico na Baixada Santista, Santos passou a ser comparada ao Rio. Mingardi, entretanto, acha que a cidade paulista só ficará de fato semelhante ao Rio em criminalidade se não houver ação do Estado para impedir. "Santos é muito menor. O Estado tem mais formas de intervir."


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