UOL


São Paulo, terça-feira, 15 de julho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RIO

Casa, a 200 m de posto policial, levou pelo menos 113 tiros

PM não impede tiroteio de 6 horas em favela no complexo da Maré

FABIANA CIMIERI
DA SUCURSAL DO RIO

Um tiroteio de seis horas de duração entre traficantes rivais aterrorizou ontem de madrugada os moradores da favela Baixa do Sapateiro, no complexo da Maré (zona norte do Rio).
A polícia chegou 13 horas depois, apesar de haver um batalhão da PM dentro do complexo, a cerca de 2 km do ponto onde houve a troca de tiros. Um suposto traficante morreu.
O batalhão da Maré foi inaugurado pelo secretário estadual de Segurança Pública, Anthony Garotinho, no último dia 30. Na ocasião, panfletos atirados de um helicóptero informavam que "a paz está chegando".
Moradores da rua do Serviço reclamaram que a inauguração do batalhão serviu apenas para dar segurança aos motoristas que passam pela avenida Brasil e pela Linha Vermelha, vias expressas nas margens do complexo.
Os seis policiais do Posto de Policiamento Comunitário, que fica a 200 m do local do tiroteio, não interferiram nem pediram reforço aos 250 homens que estavam no batalhão de madrugada.
O tenente que se identificou como Souza, responsável pelo posto ontem à tarde, disse que o barulho dos tiros não deve ter sido ouvido pela equipe de plantão durante a madrugada. Ele minimizou o acontecimento: "Não foi assim como o pessoal está falando. Deram uns tirinhos, que sempre tem, aqueles rotineiros".

Outro lado
O comandante do 22º Batalhão, tenente-coronel Álvaro Rodrigues Garcia, disse que a obrigação da polícia é intervir em qualquer tiroteio. Ele se comprometeu a investigar se houve falha no policiamento do posto comunitário, que não teria avisado o batalhão.
Garcia afirmou que reforçará o policiamento na Baixa do Sapateiro a partir das 6h de hoje. Sobre a afirmação dos moradores de que o batalhão foi feito para dar segurança aos motoristas, e não aos favelados, Garcia disse que eles não cooperam com a polícia.
"Eu vou questionar porque o batalhão está aqui e eles não denunciam. Já que existe uma guerra do tráfico no local, os moradores devem saber quem são, onde vivem esses traficantes, onde escondem as armas."
O comandante disse não ter sido avisado do tiroteio pelo posto policial. "A gente não teve comunicação. Se o policiamento não foi para o local, eu vou até verificar. Mas não houve solicitação direta dos moradores", afirmou.
O secretário de Segurança do Estado do Rio, Anthony Garotinho, não quis falar sobre as críticas dos moradores à atuação do 22º Batalhão. A Folha tentou falar com ele três vezes. Sua assessoria informou que o assunto era do âmbito do comando da PM.


Texto Anterior: Ambiente: Recuperação de terreno na favela Paraguai pode levar 18 meses
Próximo Texto: "Isso parece Bagdá", diz moradora
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.