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"Isso parece Bagdá", diz moradora
DA SUCURSAL DO RIO
A manicure Mara Silva, 28, contou ter passado a madrugada deitada no chão, abraçada à filha de
sete anos. Ela disse que traficantes
andaram sobre a laje de sua casa
durante a madrugada. Os tiros estouraram sua caixa d'água.
"Ela [a filha] estava morrendo
de medo e quis fazer xixi duas vezes. Nós andamos de quatro até o
banheiro, com os tiros comendo.
Ela tampava os ouvidos com força. Dava pena", afirmou Silva, que
não disse o nome da filha.
Para os mais novos, a violência
faz parte da rotina. Marília, 10,
mora na rua do Serviço desde que
nasceu. Ontem, ela falava sobre o
tiroteio com colegas que moram
em ruas mais distantes. "Tenho
medo não. Já estou acostumada."
Como Marília, outras crianças
quiseram ver o cadáver do desconhecido morto no tiroteio. Ele foi
assassinado com crueldade: tinha
uma chave de boca enterrada no
olho esquerdo. Um tiro de fuzil
destruiu parte de sua cabeça.
Uma estudante de 17 anos, moradora da rua, disse não se conformar com a rotina de barbárie e
ter saudades da época em que podia ir a festas à noite. Agora, após
as 19h, ninguém mais sai de casa,
contou. "Isso aqui parece Bagdá."
Os moradores afirmaram que,
na hora do tiroteio, deitaram no
chão. Disseram que nada viram,
pois não tiveram coragem de
olhar para fora das casas.
Passado o susto, eles criticam a
suposta ausência do Estado. "Onde estão esses 250 homens [policiais militares] que ele [Anthony
Garotinho, secretário estadual de
Segurança] disse que botou
aqui?", perguntou o comerciante
que se identificou como Carlos,
dono de uma padaria que teve os
vidros quebrados pelos tiros.
"Aquele batalhão que construíram é dinheiro perdido. Melhor
seria ter construído casas para os
pobres", disse o vendedor Cesinaldo Pereira, dono da casa alvejada por mais de cem tiros.
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