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São Paulo, terça-feira, 15 de julho de 2003

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ENSINO FUNDAMENTAL

Ações no Supremo pedem pagamento retroativo do valor que teria sido calculado a menos pela União

4 Estados vão à Justiça por repasse do Fundef

OTÁVIO CABRAL
DO PAINEL, EM BRASÍLIA
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Governadores de pelo menos quatro Estados entraram com ações no STF (Supremo Tribunal Federal) contra a União alegando que não estão recebendo o valor devido pelo Fundef (Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental) previsto em lei.
As ações foram impetradas pelos governos da Bahia, de Pernambuco, do Ceará e de Alagoas. Os Estados querem ainda receber retroativamente o que foi pago a menos nos últimos quatro anos.
Minas Gerais também deve entrar com uma ação.
Os quatro Estados somados afirmam ter R$ 2,6 bilhões a receber da União (R$ 1,2 bilhão da Bahia, R$ 700 milhões de Pernambuco, R$ 400 milhões do Ceará e R$ 300 milhões de Alagoas).
Levantamento feito pela Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação) aponta que, no total, a dívida da União com Estados e municípios seria de R$ 12 bilhões. Esse valor corresponde a dois terços do Orçamento do Ministério da Educação para este ano -R$ 18 bilhões.
Na última terça, os governadores Paulo Souto (PFL-BA) e Lúcio Alcântara (PSDB-CE) se reuniram com o presidente do STF, Maurício Corrêa, e pediram agilidade na tramitação das ações. Deixaram o tribunal otimistas.
"A chance de os Estados ganharem essa ação é líquida e certa. O governo não está cumprindo uma lei que ele mesmo criou", disse Alcântara. Segundo Souto, o governo criou uma lei para o Fundef, mas nunca a seguiu. "Os custos não foram atualizados, o que provocou perdas incríveis aos Estados. Tenho esperança de que a Justiça reverta essa situação."
O Fundef foi criado pelo governo federal para incentivar a expansão e a melhoria do ensino fundamental. Ele redistribui o dinheiro arrecadado por municípios, Estados e União de acordo com o número de alunos. Pouca arrecadação e muito aluno representam mais dinheiro recebido.
Na última semana, os governadores também procuraram o ministro da Educação, Cristovam Buarque. Ele disse ter um plano para aumentar o valor mínimo dos atuais R$ 446 para R$ 500.
Esse plano aguarda desde maio, mas ainda não foi aprovado por Antonio Palocci Filho (Fazenda).
Buarque prometeu ainda a elevação para R$ 750 por aluno, como está previsto na Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2004, já aprovada pelo Congresso.
A assessoria de imprensa do STF afirma que há ao menos as quatro ações cíveis ordinárias dos Estados contra a União sobre o Fundef. Nenhuma delas começou a ser examinada pelo tribunal.
Há ainda duas ações diretas de inconstitucionalidade contra a lei que instituiu o Fundef, impetradas por PT, PDT, PC do B e PMDB. Ambas foram arquivadas.
Nesta semana, Alcântara, Souto e Jarbas Vasconcelos (PE) se reúnem com o advogado-geral da União, Álvaro Ribeiro da Costa, para discutirem as ações. Caberá a Costa defender a União.

Polêmica
Desde que o Fundef foi implantado, em 1998, o governo determina anualmente, por meio de decreto presidencial, o valor mínimo a ser aplicado no ensino fundamental.
Especialistas em educação, inclusive ligados ao PT, sempre divergiram da interpretação feita pelo governo da legislação. Para eles, o valor mínimo deveria ser a média nacional dos gastos.
Neste ano, o valor mínimo está em R$ 446 para alunos de 1ª a 4ª séries e em R$ 468,30, para os de 5ª a 8ª. Com isso, a União complementa o valor para quatro Estados (Bahia, Maranhão, Pará e Piauí), que não o atingem.
Se fosse levada em consideração a média, passaria para R$ 733,80 e R$ 770,50, respectivamente. Assim, 14 Estados receberiam complementação.
O Ministério da Educação reconhece que o valor mínimo deveria ser acima de R$ 700, mas diz que não há recursos para elevá-lo.
"Este governo está trabalhando no sentido de atingir o valor legal. Mas o Orçamento não permite. Não temos condição de chegar a esse valor por enquanto", afirmou Francisco das Chagas Fernandes, diretor do Fundef.
Em relação à diferença de valores no governo anterior, Fernandes disse que caberá à Justiça definir o que deve ser feito.


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