São Paulo, quarta-feira, 15 de agosto de 2007

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"Você vai falar que não apanhou", diz policial

Frase foi ouvida ontem no prédio do Deic, na zona norte; assessoria disse desconhecer abusos contra presos

Antônio Gaudério/Folha Imagem
Moto é apreendida em operação que contou com 800 policiais


KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

"Você vai falar que não apanhou", berra um policial civil a um suposto preso, que grita na seqüência. A cena aconteceu ontem no prédio do Deic, no Carandiru (zona norte de São Paulo), 80 minutos antes da divulgação do balanço da Operação Inverno Quente, deflagrada pela Polícia Civil.
A ação, que contou com 800 policiais, foi organizada pelo Departamento de Investigações sobre Crime Organizado para combater quadrilhas de seqüestradores, de roubos a banco, cargas e carros, desmanches, pirataria e estelionato em São Paulo e na Grande SP.
A frase foi ouvida pela reportagem. O som partiu detrás de um tapume de madeira que separa o auditório do Deic -onde mais tarde o delegado Youssef Abou Chahin, diretor do departamento, falou sobre a operação- de outro cômodo, uma sala da 1ª Divecar (Delegacia de Investigações sobre Furto e Roubos de Veículos), onde presos também depõem.
Até a conclusão desta edição, a reportagem não identificou o policial que berrou nem o suposto preso. Viu, porém, por um buraco no tapume, um homem de cabeça baixa entre policiais na sala. E ouviu o diálogo com sons de tapa seguidos por "ai, ai".
Não foi possível ver o policial que gritou, mas a reportagem ouviu-o xingando o suposto preso, repetindo a ele para não contar a ninguém "que apanhou". A mesma voz comenta com outros policiais que durante a ditadura militar os policiais batiam e os bandidos imploravam: "Não senhor, pelo amor de Deus".
Procurada pela Folha, a assessoria de imprensa do Deic disse num primeiro momento que se tratava de uma brincadeira entre policiais.
"O pessoal estava brincando ali. Não tinha preso nenhum ali. Os caras estavam sabendo que você [repórter da Folha] estava ali atrás. Não existiu preso nenhum apanhando nem nada", disse o assessor do Deic Maurício Rodrigues. "Foi uma conversa entre policiais dentro de um ambiente reservado."
Além do assessor, na hora dos gritos estavam no auditório o repórter e um fotógrafo da Folha e outro jornalista.
Posteriormente, o Deic encaminhou um e-mail. "A direção do Deic desconhece qualquer tipo de abuso contra presos. Caso o repórter queira formalizar esse suposto abuso, será necessário entrar com uma representação junto à direção do Deic, que encaminhará a apuração à Corregedoria da Polícia Civil", informa o texto.

Balanço da ação
Na ação, o Deic apreendeu 5.000 máquinas ilegais de caça-níquel em Vargem Grande Paulista. Libertou dois reféns de cativeiro, em Arujá e na zona leste. Também prendeu em Ourinhos um homem apontado como um dos maiores fornecedores de celulares clonados para criminosos no país.
Até as 17h de ontem, 13 suspeitos foram presos. Dois seqüestradores foram mortos.


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