São Paulo, sexta-feira, 15 de agosto de 2008

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Busca pelo par ideal anima "avulsos" na comemoração do Dia do Solteiro

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Numa sala do segundo andar de um sobrado da Vila Mariana, zona sul, a empresária Cláudya Toledo, 41, informa: "Vai acontecer um "insight" aqui."
Insight?
É como ela chama o encontro entre um homem e quatro mulheres, promovido por sua agência de casamentos. "O rapaz conversa com uma moça de cada vez e vê se alguma o agradou. A escolhida pode dizer se aceita ou não namorar", diz.
O rapaz, Roberto, 39, é médico, separado, tem 1,67 m, 66 kg e renda superior a R$ 10 mil. "Conheci muita menina na balada, realizei minhas fantasias do tempo de casado, mas não era nada construtivo", explica.
É o segundo "insight" do médico. No primeiro, ele escolheu uma moça entre oito e namorou por cinco meses.
Uma das candidatas é Marília, 30, funcionária pública, loura, 1,67 m, 53 kg. "Tive que passar por cima do orgulho para conseguir meu objetivo [casar]. Não estava encontrando o que queria na noite", diz ela, que, como Roberto, pagou entre R$ 1.200 e R$ 5.000 de matrícula, com validade de 18 meses.
Cláudya afirma que promove cinco "insights" por semana. Como há 60% de clientes mulheres para 40% de homens, eles sempre escolhem.

Invenção
Hoje, 15 de agosto, é o Dia do Solteiro, uma invenção importante para os empresários do setor casamenteiro. Embora nenhum saiba informar a origem da data, eles promovem "uma série de atividades".
A mais comum é um "fim de semana temático", cujo objetivo é uma espécie de desencalhe em massa. "Cerca de 40% do volume (de gente) do encontro sai namorando", diz Yolanda Oliveira, 55, dona de uma agência de viagens para solteiros.
Yolanda vai levar 120 pessoas, a R$ 648 cada uma, para o fim de semana em Campos do Jordão. "Só não levo mais gente porque não tem vaga no hotel."
Para a Semana Internacional do Solteiro, em setembro, na Costa do Sauípe, ela já vendeu 50 pacotes, a R$ 1.548 cada um.
Há muita gente avulsa no mercado. Segundo pesquisa feita pelo Datafolha com 4.044 pessoas na faixa etária acima dos 16 anos, em todo o Brasil, 36% são solteiros -fora separados (8%) e viúvos (6%).
Um dos motivos que levam solteiros a procurar agências é a crença de que ali podem encontrar um "parceiro sério": "Eles verificam se o rapaz tem antecedentes criminais, dívidas, checam estado civil", acredita a gerente de vendas Alessandra, 31, na fila de espera para conversar com Roberto.
Em um levantamento feito com 5.000 clientes, na faixa etária dos 24 aos 78 anos, uma agência de Curitiba definiu os motivos considerados eliminatórios na busca do parceiro.
Homens que têm apenas o 1º grau ou menos de 1,65 m e sem carro perdem muitos pontos.
"Em geral, a mulher quer parceiros que sejam mais preparados do que ela", diz Sheila Rigler, 56, da agência.
"95% das moças cadastradas conosco têm curso universitário. Então, é gente acostumada com um certo nível de conforto", diz Marlene Heuser, 55, de outra agência local.
Os homens costumam eliminar gordas, fumantes, que meçam mais de 1,75 m ou tenham filhos. Mas tudo -para ambos os sexos- é negociável.
O analista de sistemas Walter, 47, mora com a mãe de 80 -fator considerado desclassificatório pelas candidatas. Mesmo assim, ele diz que já foi apresentado a 70 mulheres. Rejeitou 60 e foi rejeitado por dez.
"Na parte física, o que mais me atrai é o sorriso; na psicológica, o companheirismo", diz Walter, que tem 1,90 m, 90 kg e é "90% vegetariano".
A engenheira Carla Góis, 28, que fez sua inscrição há dois meses, demonstra receio em ser retratada como mega-encalhada. "Quero que você aborde o tema pelo lado bom." Qual?
"O da mulher que gasta uma grana e investe numa agência de casamento para arrumar um companheiro legal." Ah, tá.


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