São Paulo, Domingo, 15 de Agosto de 1999
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Sintomas só duram seis meses

da Reportagem Local

Quem está sofrendo de todos os sintomas da paixão e agora acaba de descobrir que isso ainda pode ser uma doença não precisa se desesperar. Seus efeitos só duram em torno de seis meses.
Depois disso, o que foi descrito aos psiquiatras italianos da Universidade de Pisa como uma "tontura" inicial pode diminuir e desaparecer ou dar lugar a um sentimento mais brando, o amor.
"Você pergunta: a afinidade, a amizade, o comportamento e a inteligência não têm influência? Todos esses fatores estão envolvidos em uma segunda fase do relacionamento, quando você passa da paixão para o amor de verdade", disse a psiquiatra Donatella Marazziti.
E esses são os fatores que aparecem após os primeiros meses de "tontura", quando a imagem do ser desejado é, inclusive, idealizada como a da única pessoa perfeita para você. São nesses meses que a quantidade de serotonina no cérebro fica abaixo do normal. E que o apaixonado pode ser comparado ao doente obsessivo compulsivo.
Psiquiatras brasileiros, entretanto, discordam dessa avaliação.
A psiquiatra Maria Conceição do Rosário Campos, membro do grupo do Hospital das Clínicas que estuda transtorno obsessivo compulsivo, diz que há anos se comparam os sintomas dessa doença com a paixão.
"É normal uma pessoa apaixonada ter alguns pensamentos obsessivos, assim como é normal alguém que acabou de ter um filho ter pensamentos obsessivos com ele, como checar se está bem no berço todo instante. Só que as duas coisas passam, enquanto o transtorno obsessivo compulsivo é uma rotina", disse.
Para ela, os estudos comparando a doença e a paixão -envolvendo aí a quantidade de serotonina no cérebro- são importantes para estabelecer suas diferenças e não as semelhanças.
"O importante é descobrirmos por que, se nos dois casos os sintomas são parecidos e há menor quantidade de serotonina no cérebro, um deles passa depois de alguns meses e o outro não", disse Maria Conceição.
Para o supervisor do Serviço de Psicoterapia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, Eduardo Ferreira-Santos, a paixão é a emoção mais corporal do amor, porque é um movimento de transformação, mas só é obsessiva em casos extremos.


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