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Jurado de morte, vigilante deixou Vila Nova Curuçá
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
O vigilante Ricardo Francisco
dos Santos mudou-se do bairro
de Vila Nova Curuçá, onde mora
sua família, no extremo leste da
cidade, e foi se esconder no Capão
Redondo, zona sul, há três anos,
depois de ser jurado de morte por
causa de dívidas com um comerciante de carros. Há 11 meses, já
resolvida a pendência, voltou a
freqüentar a Vila Nova Curuçá,
quando lhe nasceu o filho. Nessa
época, retomou a amizade com
Nilton Yonekura, da família chacinada. As casas dos amigos distam 1.460 metros uma da outra.
"Eles viviam juntos. O japonês
vinha muito aqui. Estava tentando conquistar o coração da irmã
do Ricardo, que é uma moça inteligente, no último ano da faculdade de direito", conta Givaldo Torquato Macedo, o Gordo, dono do
Gold's Bar.
Mãe e irmã de Ricardo não são
vistas na casa da rua Cembira desde segunda-feira. O pai já disse
que de lá não sai. Ontem, às 11h,
foi visto andando rumo ao ponto
de ônibus, a cabeça baixa.
"Ele é um trabalhador, e um
bom trabalhador. Tá vendo aquela casa ali? [aponta] Foi o pai do
Ricardo que reformou. Aquela
outra e aquela também. Ah, ele
também fez uns serviços na minha casa", diz o conserta-tudo
Erivaldo Alves de Almeida.
No domingo, antes de saber das
acusações contra o filho, o pai colocava grades e levantava os muros de mais uma casa do quarteirão. Nenhum imóvel da área tem
muros baixos.
Ao lado da família de Ricardo,
uma vizinha teve o marido assassinado na porta de casa. Um filho
foi executado por traficantes. Outro, dependente de drogas, morreu de Aids contraída pelo uso de
seringas contaminadas. Na calçada do bar do Gordo, dois jovens
foram assassinados há quatro
anos. "Aqui, rola farinha [cocaína] demais", diz o comerciante.
A mãe de Ricardo abriu uma
bombonière. Não deu certo. Hoje,
cuida de um casal de idosos. Está
sempre elegante, de blazer e calças compridas.
"É uma família tranqüila, normal, inimiga de encrencas", diz a
funcionária do salão de beleza do
quarteirão. Nem para uma cervejinha no final da semana, pai e filho passavam no bar do Gordo.
"O único vício familiar é o Santos
Futebol Clube", diz ela.
O pai migrou do Nordeste para
a Vila Nova Curuçá. Veio do sertão baiano. No mesmo quarteirão, os donos do Beco do Mocotó,
da oficina e da barbearia também
vêm da Bahia. O dono da farmácia é alagoano e o da auto-escola,
cearense. "Sabe aquela timidez do
cara do interior? Assim é o pai de
Ricardo. Tirar um "bom dia" dele
já é difícil", diz um vizinho.
Quando a polícia chegou à casa
da família Santos, na madrugada
de segunda-feira, Gisele da Silva,
funcionária da locadora de vídeo
Desirée, achou que era por causa
de uma tragédia canina. "No dia
anterior, a cachorrinha cocker da
mãe do Ricardo foi estraçalhada
por um pit bull sem focinheira",
lembra. "Achei que só podia ser
este o motivo da visita da polícia."
Os vizinhos se lembram da única vez, fora essa, em que apareceram na TV. Foi na campanha eleitoral de 1994, quando José Dirceu,
candidato a governador pelo PT,
almoçou no Beco do Mocotó. Deu
no horário eleitoral gratuito.
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