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BILHETE VENCIDO
"Laboratório" de passaportes falsos é descoberto em São Paulo; policiais federais são acusados de atuar no esquema
Máfia da migração ilegal agia em Cumbica
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Federal prendeu ontem 44 pessoas acusadas de operar um esquema de migração ilegal para os EUA e contrabando no
Aeroporto Internacional de São
Paulo (Cumbica), em Guarulhos.
Entre os presos estão agentes da
PF e da Receita Federal, além de
funcionários de companhias aéreas, falsificadores e oito agenciadores de migrantes que operavam
na região de Ipatinga (MG).
A Embaixada dos EUA informou que cerca de 50 pessoas beneficiárias do esquema já foram
presas naquele país, entre brasileiros e estrangeiros.
Representantes das polícias dos
EUA e da Espanha obtiveram autorização judicial para acompanhar as ações da PF ontem, batizadas de Canaã (migração) e
Overbox (contrabando).
Apesar de José Ivan Lobato, superintendente da Polícia Federal
em São Paulo, ter destacado que o
órgão está "cortando na própria
carne" com as ações, a PF não divulgou o nome de todos os presos, mas apenas os de dois peruanos, A.W. e M.O., acusados de fabricar documentos falsos, entre
eles passaportes espanhóis, em
um "laboratório" no Tatuapé, zona leste da capital. Os dois peruanos não puderam ser ouvidos.
"A Polícia Federal não visa classe nem profissão. Tanto que hoje
está cortando na própria carne",
afirmou Lobato, que concedeu
entrevista ao lado de representantes das embaixadas dos Estados
Unidos e da Espanha.
Todas as 44 pessoas cumprirão
prisão temporária de cinco dias,
prorrogáveis por mais cinco. São
acusadas de formação de quadrilha, migração ilegal, contrabando
e falsificação de documentos.
Sete são agentes da PF no aeroporto e um é funcionário administrativo -segundo a polícia, seria peça-chave no esquema, por
avisar quando agentes corruptos
estariam trabalhando. Dois presos são funcionários da Receita.
A advogada de um dos agentes
presos, Luciana Mirella Bortolo,
entrou em contato ontem com a
reportagem e afirmou que a prisão foi realizada sem base legal.
"Não há fato concreto", disse Bortolo, que representa o agente A.B.,
que trabalha no terminal de passageiros de Cumbica.
De acordo com a advogada,
A.B. foi preso sob a acusação de
fornecer passaportes japoneses,
falsos, para chineses que passavam por São Paulo. A reportagem
não divulga o nome do agente em
razão de a PF não ter informado o
nome dos servidores envolvidos.
A polícia também não divulgou
o nome das empresas aéreas cujos
funcionários foram acusados de
envolvimento no esquema.
Segundo informações do órgão,
esses funcionários agiriam no
check-in, dando caminho livre
para os que migravam para os
EUA com documentos falsos.
Outras 12 pessoas ainda eram
procuradas até a tarde de ontem.
Segundo a PF, a divulgação dos
nomes poderia atrapalhar o fim
das operações, previsto para hoje.
Ainda segundo a PF, 600 policiais participaram das ações.
O nome Canaã, da operação
contra a migração, faz referência à
terra prometida bíblica. A polícia
não explicou o nome da operação
de combate ao contrabando.
Em Santa Catarina, a PF prendeu 24 acusados de atuar em uma
quadrilha de migração ilegal para
os EUA. Segundo a PF, há conexões com os presos de Cumbica.
De acordo com o superintendente da PF, as investigações começaram 2003 após denúncias
das duas embaixadas. Por enquanto, a PF está focada no modo
de operação das quadrilhas. Não
há informações sobre os valores
movimentados nem sobre quem
seriam os chefes dos grupos.
Segundo a PF, os pacotes de migração com passagem, passaporte
falso e transporte até os EUA,
comprados por brasileiros e estrangeiros, custavam até US$ 15
mil. Já as "mulas" -pessoas que
traziam as mercadorias contrabandeadas- receberiam US$ 500
por mala carregada até Cumbica.
A maior parte das mercadorias
vinha em malas de passageiros,
mas também foram detectadas
operações no terminal de cargas
do aeroporto. Parte das mercadorias foi achada perto da galeria Pajé, local conhecido de venda de
itens contrabandeados na capital.
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