São Paulo, sábado, 15 de setembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Relatório aponta problema até em merenda de aluno especial

Salsicha é dividida entre 3 crianças, diz documento

ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Novo relatório de visitas do CAE (Conselho de Alimentação Escolar) de São Paulo revela que nem mesmo as escolas do município para alunos com necessidades especiais estão livres de problemas com a distribuição da merenda.
O documento, entregue anteontem à CPI dos Direitos, da Câmara Municipal, relata que as merendeiras da escola especial Anne Sullivan, na região de Santo Amaro (zona sul), dividiam uma salsicha para três alunos. A instituição é destinada a aproximadamente 300 crianças e adolescentes com deficiência auditiva. "Não há uma justificativa. Isso é somente para economia", afirmou José Ghiotto Neto, presidente e representante dos professores do CAE.
Ao todo, são relatadas 16 visitas realizadas, entre 6 de agosto e 6 de setembro, em escolas com merenda própria ou terceirizada. Em todas elas foram encontrados problemas. Também estão inclusos nesses relatos as quatro escolas nas quais merendeiras dizem receber bônus de R$ 40 para reduzir a quantidade do alimento distribuído, conforme revelou a Folha nesta semana. Dessas 12 novas escolas citadas pelo conselho, a reportagem ouviu funcionários, pais de alunos e estudantes de duas delas. Todos confirmaram a existência de problemas.
A prefeitura proibiu ontem a entrada da Folha nas escolas. Segundo a assessoria do prefeito Gilberto Kassab (DEM), a reportagem só poderia entrar em uma unidade acompanhada de uma nutricionista indicada pela administração e esse isso também precisa ser previamente agendado. De preferência com uma dia antecedência.

Deixando a comida
A dona-de-casa Vilma Kuroba, 41, mãe de um dos 396 alunos da escola infantil Montese, na Saúde (zona sul), afirma que ela e outras mães perceberam queda na qualidade do alimento pela reclamação dos filhos. De acordo com ela, versão confirmada por uma funcionária da escola, as crianças estão deixando boa parte da comida no prato. "Está havendo muito desperdício. Antes de terceirizar, ele [o filho] gostava mais da comida", afirmou ela. Pelo relatório do conselho, além de problemas estruturais na cozinha (como vazamentos hidráulicos), era oferecida na merenda salsicha que "dissolve quando fervida".
Na escola João Sussumu Hirata, Jardim Ofélia (zona sul), funcionários também disseram existir problemas com a qualidade das frutas e verduras; os alunos, sobre a quantidade. "Só pode pegar uma só. Porque é pouca fruta para muito aluno", afirmou um estudante de 10 anos e da 3ª série. Os conselheiros relataram que nessa escola, com cerca de 1.500 alunos em quatro turnos (um deles apelidado de "turno da fome", numa referência ao horário do almoço), as "frutas e legumes não são de boa qualidade" e as "frutas [são] em quantidade insuficiente". O relatório diz também que uma das carnes servidas (patinho) "cheira mal quando cozida". Os alunos e funcionários que falaram com a Folha não relataram esse problema. Seis estudantes afirmaram que, apesar da quantidade de frutas, a comida é saborosa.
O CAE é um dos órgãos oficiais de fiscalização da merenda e é composto por representantes de pais, professores e funcionários públicos. O conselho é responsável pelo controle das verbas da merenda e seus relatórios podem provocar até a suspensão de repasses da União ao município. "Esse relatório demonstra que há, de fato, problemas na distribuição da merenda que precisam ser investigados a fundo. Existem problemas tanto na quantidade quanto na qualidade", disse Paulo Fiorilo (PT), presidente da CPI. A Secretaria de Gestão disse que não iria comentar os novos casos porque não teve acesso oficial ao relatório. A Folha enviou cópia do documento entregue à Câmara. As empresas responsáveis pela merenda das escolas mencionadas, Sistal e Terra Azul, disseram que alguns problemas já foram solucionados, mas negam outros (leia texto nesta página).


Colaboraram ALENCAR IZIDORO e JOSÉ ERNESTO CREDENDIO


Texto Anterior: Sopa é forma de atrair pais à escola, diz secretário
Próximo Texto: Crianças podem se servir à vontade, afirma empresa
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.