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Relatório aponta problema até em merenda de aluno especial
Salsicha é dividida entre 3 crianças, diz documento
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Novo relatório de visitas do
CAE (Conselho de Alimentação Escolar) de São Paulo revela que nem mesmo as escolas
do município para alunos com
necessidades especiais estão livres de problemas com a distribuição da merenda.
O documento, entregue anteontem à CPI dos Direitos, da
Câmara Municipal, relata que
as merendeiras da escola especial Anne Sullivan, na região de
Santo Amaro (zona sul), dividiam uma salsicha para três
alunos. A instituição é destinada a aproximadamente 300
crianças e adolescentes com
deficiência auditiva.
"Não há uma justificativa. Isso é somente para economia",
afirmou José Ghiotto Neto,
presidente e representante dos
professores do CAE.
Ao todo, são relatadas 16 visitas realizadas, entre 6 de agosto
e 6 de setembro, em escolas
com merenda própria ou terceirizada. Em todas elas foram
encontrados problemas.
Também estão inclusos nesses relatos as quatro escolas nas
quais merendeiras dizem receber bônus de R$ 40 para reduzir a quantidade do alimento
distribuído, conforme revelou
a Folha nesta semana.
Dessas 12 novas escolas citadas pelo conselho, a reportagem ouviu funcionários, pais
de alunos e estudantes de duas
delas. Todos confirmaram a
existência de problemas.
A prefeitura proibiu ontem a
entrada da Folha nas escolas.
Segundo a assessoria do prefeito Gilberto Kassab (DEM), a
reportagem só poderia entrar
em uma unidade acompanhada
de uma nutricionista indicada
pela administração e esse isso
também precisa ser previamente agendado. De preferência com uma dia antecedência.
Deixando a comida
A dona-de-casa Vilma Kuroba, 41, mãe de um dos 396 alunos da escola infantil Montese,
na Saúde (zona sul), afirma que
ela e outras mães perceberam
queda na qualidade do alimento pela reclamação dos filhos.
De acordo com ela, versão
confirmada por uma funcionária da escola, as crianças estão
deixando boa parte da comida
no prato. "Está havendo muito
desperdício. Antes de terceirizar, ele [o filho] gostava mais da
comida", afirmou ela.
Pelo relatório do conselho,
além de problemas estruturais
na cozinha (como vazamentos
hidráulicos), era oferecida na
merenda salsicha que "dissolve
quando fervida".
Na escola João Sussumu Hirata, Jardim Ofélia (zona sul),
funcionários também disseram
existir problemas com a qualidade das frutas e verduras; os
alunos, sobre a quantidade. "Só
pode pegar uma só. Porque é
pouca fruta para muito aluno",
afirmou um estudante de 10
anos e da 3ª série.
Os conselheiros relataram
que nessa escola, com cerca de
1.500 alunos em quatro turnos
(um deles apelidado de "turno
da fome", numa referência ao
horário do almoço), as "frutas e
legumes não são de boa qualidade" e as "frutas [são] em
quantidade insuficiente".
O relatório diz também que
uma das carnes servidas (patinho) "cheira mal quando cozida". Os alunos e funcionários
que falaram com a Folha não
relataram esse problema. Seis
estudantes afirmaram que,
apesar da quantidade de frutas,
a comida é saborosa.
O CAE é um dos órgãos oficiais de fiscalização da merenda e é composto por representantes de pais, professores e
funcionários públicos. O conselho é responsável pelo controle das verbas da merenda e
seus relatórios podem provocar até a suspensão de repasses
da União ao município.
"Esse relatório demonstra
que há, de fato, problemas na
distribuição da merenda que
precisam ser investigados a
fundo. Existem problemas tanto na quantidade quanto na
qualidade", disse Paulo Fiorilo
(PT), presidente da CPI.
A Secretaria de Gestão disse
que não iria comentar os novos
casos porque não teve acesso
oficial ao relatório. A Folha enviou cópia do documento entregue à Câmara. As empresas
responsáveis pela merenda das
escolas mencionadas, Sistal e
Terra Azul, disseram que alguns problemas já foram solucionados, mas negam outros
(leia texto nesta página).
Colaboraram ALENCAR IZIDORO e JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
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