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Petrobras despeja poluentes no canal de São Sebastião
Estatal lança resíduos contaminados com amônia e boro no mar, diz relatório da Cetesb
Medições feitas pela própria empresa e pela prefeitura apontam que dejetos tóxicos jogados no litoral estão bem acima dos níveis aceitáveis
DA REPORTAGEM LOCAL
A Petrobras lança resíduos
contaminados com amônia e
boro, um metal pesado, no canal de São Sebastião (litoral
norte de São Paulo), onde uma
subsidiária da estatal, a Transpetro, mantém o Tebar, maior
terminal de petróleo do país.
As águas do canal banham
praias -além de São Sebastião- da vizinha Ilhabela. Também é um local de concentração de colônias de pescadores.
A contaminação, admitida
pela Petrobras, foi apontada
ontem pela Cetesb (agência
ambiental paulista) na apresentação dos relatórios de qualidade ambiental do Estado.
Os resíduos chegam ao canal
pela tubulação (emissário marítimo) que a Petrobras opera
para despejar no canal restos
do processamento do petróleo.
Passam pelo Tebar cerca de
70% do petróleo do país.
Segundo Eduardo Hipólito
do Rego, do Consema (Conselho Estadual do Meio Ambiente), medições a pedido da Prefeitura de São Sebastião apontavam, há quatro anos, indícios
de amônia na água do mar bem
acima dos níveis aceitáveis.
Na época, houve casos de até
125 mg/litro, para um limite de
20 mg/litro. As concentrações
são estabelecidas por resolução
do Conama (Conselho Nacional de Meio Ambiente).
O emissário marítimo da Petrobras lança por hora 120 mil
litros de água com excesso de
contaminação no canal de São
Sebastião.
Medições da própria Petrobras apontam que o índice de
boro atinge até 35 mg por litro
de resíduos, 600% mais do que
o máximo permitido. No caso
da amônia, o valor é de 90 mg/l
a 100 mg/l -o índice máximo
aceitável é de 20 mg/l.
Como a ETE (Estação de
Tratamento de Efluentes) não
conta com a tecnologia adequada, segundo a Cetesb, nem todos os contaminantes são eliminados. Em razão dessa deficiência, a Petrobras não obteve
licença para operar o sistema.
Os metais pesados se acumulam no organismo ao longo do
tempo depois de ingeridos
através de pescados, por exemplo, e são considerados potenciais causadores de câncer.
De acordo com a Cetesb, a
amônia é tóxico ""bastante restritivo à vida dos peixes" e reduz o nível de oxigênio na água.
O gerente do departamento
de tecnologia de águas superficiais da Cetesb, Eduardo Mazzolenis de Oliveira, afirma que
o emissário da Petrobras só vai
receber licenciamento ambiental quando o projeto for adaptado às exigências legais.
""Estamos discutindo isso há
muito tempo. A Petrobras discorda de alguns parâmetros
que fixamos", disse.
Para adaptar o sistema e corrigir a falha, a empresa petrolífera afirma que vai investir R$
120 milhões até 2009 (leia texto nesta página).
Sabesp
Além da Petrobras, a Sabesp
(Companhia de Saneamento
Básico do Estado de São Paulo)
também precisa aperfeiçoar o
tratamento do esgoto lançado
no litoral por seus sete emissários marítimos. O tratamento,
afirma a Cetesb, é insuficiente
para enquadrar o esgoto às normas do Conama.
Segundo Fernando Rei, diretor-presidente da Cetesb,
"houve um tempo em que se
acreditava" que os emissários
eram adequados. "Mas o monitoramento mostra que não é a
melhor solução. É preciso fazer
um tratamento primário [retirar sólidos em suspensão] antes de lançar ao oceano. Já seria
um ganho extraordinário", disse. Hoje, é feito apenas um tratamento preliminar do esgoto
-é como se o efluente fosse
apenas peneirado.
O diretor de tecnologia e planejamento da Sabesp, Marcelo
Salles, diz que a empresa vai investir na melhoria do sistema
no emissário de Santos, que
opera há 30 anos, além de instalar em Praia Grande um
emissário moderno.
(JOSÉ ERNESTO CREDENDIO e AFRA BALAZINA)
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