São Paulo, sábado, 16 de maio de 2009

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Multicultural, Bom Retiro tem 215 opções de patrimônio

Iphan escolhe no 2º semestre a expressão cultural mais representativa da região

Distrito, onde há imigrantes de diversas origens, foi escolhido pela diversidade; será o primeiro patrimônio imaterial da cidade de SP

MARIANA BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL

A dança tradicional coreana, a feira boliviana Kantuta e a procissão grega de Sexta-Feira Santa estão entre as 215 expressões culturais do Bom Retiro (centro de SP) candidatas a virar patrimônio nacional.
O Iphan, órgão federal de preservação do patrimônio, elegerá no segundo semestre a principal expressão cultural do distrito, que se tornará patrimônio cultural imaterial. A cidade de São Paulo não possui nenhum bem nessa categoria, que abrange tudo o que não é palpável e que tem importância histórica, como festas, técnicas e receitas culinárias.
Entre os 15 bens imateriais já registrados pelo Iphan, estão a celebração do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém, o frevo pernambucano e o modo das baianas de fazer acarajé.
A diversidade cultural do Bom Retiro, onde convivem famílias de imigrantes italianos, poloneses, gregos, húngaros, búlgaros, armênios, coreanos, bolivianos e paraguaios, colocará SP nesse mapa cultural.
O levantamento sobre o distrito, iniciado em 2004 e concluído neste ano, será divulgado em formato de CD-ROM no segundo semestre. "A partir do inventário, faremos a escolha do bem mais representativo", afirma Simone Toji, técnica do Iphan responsável pelo estudo.
Segundo ela, é preciso que o órgão eleja apenas uma das manifestações, porque dificilmente a região como um todo poderia ser preservada. "Em um amplo território, nossa [do Iphan] preservação do patrimônio é insuficiente", explica.
De acordo com Simone, integram o levantamento do Bom Retiro mais de 60 edificações consideradas símbolos do multiculturalismo local, como a igreja ortodoxa grega da rua Matarazzo ou o Taib (Teatro de Arte Israelita Brasileiro).

Origens
O nascimento do bairro coincide com a criação do Jardim da Luz, em 1825. Segundo a mestranda da USP Marcela Rufato, autora de um estudo sobre os imigrantes do Bom Retiro, o local concentrava chácaras de veraneio. Depois de vendida pela prefeitura e loteada, a área foi se tornando polo industrial, fato impulsionado pela proximidade da linha ferroviária que chegava à Estação da Luz.
No início do século 19, o Bom Retiro foi povoado por operários italianos, primeira leva de imigrantes a viver no local.
A área, degradada pela ferrovia e pelas indústrias instaladas, oferecia moradia barata, vantagem aproveitada nas décadas seguintes por novas levas de estrangeiros que foram mudando a cara e os hábitos locais.

Preservação
Depois que viram patrimônio, os bens passam a receber auxílio do Iphan para a manutenção de suas atividades. As baianas do acarajé, por exemplo, tiveram ajuda para formar uma associação e passaram a usar a declaração para justificar seu trabalho quando abordadas por policiais. Já o samba de roda do Recôncavo Baiano recorreu ao Iphan para reformar o edifício que virou sua sede em Santo Amaro da Purificação.


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