São Paulo, quarta-feira, 16 de junho de 2010

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GILBERTO DIMENSTEIN

De galho em galho


Ela testa uma profissão, ainda não ensinada nas faculdades: guia de árvores num centro urbano


A DESIGNER Juliana Gatti anda pelas ruas, seguida por um grupo de curiosos interessados em conhecer as árvores da cidade de São Paulo. Vistos ao longe, eles parecem apenas fazer um passeio turístico. Mas esse é um novo tipo de turismo.
Nessas caminhadas, ela testa uma nova profissão, ainda não ensinada nas faculdades: guia de árvores num centro urbano.

 


Essa experiência profissional é uma volta à infância e à adolescência, quando Juliana passava quase todas as férias no sítio de seu avô em Tietê, cidade do interior de São Paulo. "Para mim, bastava ficar sentada debaixo das árvores brincando."
Conseguia até reproduzir um pouco dessa sensação fora das férias. Estudava numa escola (Santa Marcelina) em Pinheiros, onde havia um bosque. Era onde ela gostava de ficar lendo, sentada na terra.
Seguiu a carreira de designer, na qual já fez de tudo um pouco: cenografia, móveis, joias, cartazes, vinhetas para televisão e até roupas. Também chegou a promover eventos.
Foi, entretanto, no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), onde trabalhou na análise de madeiras, que despertou sua curiosidade por conhecer as árvores de que se originava o material que chegava às suas mãos. "Percebi, então, que não conhecia as árvores da minha própria cidade."
Percebeu também que quase ninguém conhecia o mínimo da flora paulistana. Resolveu, então, redesenhar sua carreira.

 


Juliana montou um grupo com um arquiteto, uma paisagista e uma bióloga para formatar os passeios, convidando crianças, adolescentes e pessoas da terceira idade a integrá-lo. Criaram, então, o projeto Árvores Vivas. Escolas e, mais recentemente, unidades do Sesc começaram a chamá-la. Na próxima semana, em companhia de seus alunos, ela vai fazer um reconhecimento da região em torno do Sesc Consolação, onde há um esforço comunitário para plantar árvores.
As caminhadas se converteram num projeto digital. Durante todo o trajeto, são tiradas fotos das árvores tanto pelos alunos como pelos monitores. As centenas de fotos das árvores estão sendo inseridas em mapas na internet. Montou-se um mapa das árvores, facilmente localizáveis pelo computador. "Descobrimos que poderíamos compartilhar nossas caminhadas."

 


Juliana ainda não sabe se vai conseguir manter a sustentabilidade do projeto, mas, pelo menos, está gostando -e muito- do que vem fazendo. "Enfim, acho que descobri minha paixão." Antes, sentia-se confusa profissionalmente e "pulando de galho em galho".
Conseguiu trazer para seu trabalho um pouco do sítio de seu avô. Com a diferença de que agora as férias não precisam acabar.

 


PS- Coloquei na internet (www.catracalivre.com.br) uma coleção de fotografias das árvores vistas nesses passeios.

gdimen@uol.com.br


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