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PLANOS DE SAÚDE
Decisão da Justiça paulista obriga 12 seguradoras e Hospital do Servidor a reconhecer parceiros; cabe recurso
Casais gays vão ter direito a assistência
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Grupos homossexuais do Estado de São Paulo ganharam na Justiça, em primeira instância, o direito de colocar seus parceiros como dependentes em 12 operadoras de saúde e no Hospital do Servidor Público Estadual (Iamspe),
de São Paulo.
Ontem, a Defensoria Homossexual e a Associação do Orgulho
Gay comemoraram a decisão como a maior vitória do movimento
homossexual no país .
Por se tratar de ação civil pública, a sentença vale para todo o território nacional, no caso dos planos e seguros de saúde. E vale para os cerca de 700 mil funcionários públicos do Estado. Nos dois
casos, poderá haver recurso.
Caberá ao juiz decidir se a sentença terá efeito suspensivo ou
não -quer dizer, se entrará em
vigor imediatamente ou se terá de
aguardar que os recursos sejam
julgados nas diversas instâncias.
Como o Judiciário está em greve, as partes envolvidas ainda não
foram citadas nem conhecem o
teor da sentença. Dessa forma,
nem o Iamspe, nem a Fazenda
Pública do Estado -réus na ação
na 7ª Vara da Fazenda Pública-,
nem as operadoras de saúde
-rés na 5ª Vara- têm ainda
condições de se manifestar.
Arlindo de Almeida, presidente
da Abramge -que representa a
maioria dos planos de saúde-,
disse não ter notícia desta ação.
A Porto Seguro, como outras
operadoras ouvidas, também informou não ter ciência da sentença e que só se manifestarão quando for citada.
O professor Fernando Schueler,
39, que ensina história em escola
da rede estadual, comemorou a
decisão. "Assim que a Justiça definir as regras, incluirei meu companheiro como dependente."
Preconceito
Na prática, a decisão significará
apenas mais um dependente, enquanto as famílias heterossexuais
têm três ou mais. "Sabemos que
financeiramente não será um peso para as empresas; o que pega
mais é o preconceito", diz o advogado Fernando Quaresma, que
dirige a Defensoria Homossexual,
um serviço prestado pela ONG
Aiesp (Associação de Incentivo à
Educação e Saúde de São Paulo).
Na condição de dependente, os
juízes acatarão com mais facilidade a tese de que havia uma união
estável, no caso de um dos parceiros vir a falecer.
"No geral, a família daquele que
morre não reconhece a união e
quer ficar com os bens, o que
obriga o outro a entrar na Justiça", diz Quaresma. "Esse é um
ponto importante dessa sentença
que considero fundamental para
o movimento homossexual", diz
a advogada de família Sylvia Mendonça do Amaral, autora do livro
"Manual Prático dos Homossexuais e Transexuais".
Como a lei não reconhece a
união civil entre pessoas do mesmo sexo -projeto de lei da então
deputada Marta Suplicy está parado há dez anos na Câmara Federal-, ONGs e o escritório de
Sylvia Mendonça estão registrando, preventivamente, um pacto
de união estável em cartório.
"As decisões da Justiça representam uma grande transformação na sociedade do ponto de vista dos direitos individuais", diz
Reinaldo Pereira Damião, presidente da Associação do Orgulho
GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e
transgêneros). "Quanto mais
mostrarmos a cara, mais a sociedade abrirá os olhos para nós e
nossos direitos, pois continuamos
discriminados e os adolescentes
homossexuais ainda apanham e
são expulsos de suas casa."
Entre as 12 operadoras que
constam da sentença estão a
Amil, Amico, Golden Cross, Marítima, Porto Seguro, Sul América
e Bradesco Seguro.
Segundo Pedro Almeida, da Associação do Orgulho GLBT, caso
as operadoras façam alegações
preconceituosas, elas serão citadas em protestos que os grupos
pretendem fazer em todo o país.
"Uma delas já disse que incluir
dependentes de gays é o mesmo
que comprar uma casa e receber
uma bomba", afirmou.
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