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TRANSPORTE SOLIDÁRIO
Perueiros e empresários de ônibus já reclamam dos valores definidos e de atrasos nos pagamentos
Gastos pós-bilhete único tendem a subir
DA REPORTAGEM LOCAL
Maio de 2004. O bilhete único,
que permite viagens livres em
ônibus e lotações por duas horas
pagando R$ 1,70, é implantado
pela Prefeitura de São Paulo.
Julho de 2004. Perueiros protestam -alegando receber remuneração insuficiente- e ameaçam
um boicote ao cartão magnético.
A administração Marta Suplicy
aceita liberar para eles R$ 5 milhões mensais de subsídio extra.
Agosto de 2004. Empresários de
ônibus ameaçam não depositar os
salários dos trabalhadores, depois
de mais de um ano de trégua no
setor. Motivo: a prefeitura passou
a atrasar os repasses de parte da
remuneração dos operadores.
O cenário acima reflete as pressões que vão crescer nos próximos meses para a elevação das
subvenções ao transporte coletivo
na fase pós-bilhete único -aliada
à constatação de que essa será a
tendência para quem estiver no
comando da prefeitura em 2005.
As mudanças no transporte coletivo -além do cartão magnético, as exigências de renovação da
frota- elevam as despesas orçamentárias mensais entre R$ 20
milhões e R$ 30 milhões.
Se, no segundo semestre de
2003, a injeção de subsídios no setor teve média mensal de R$ 17,8
milhões (R$ 17 milhões, em valores da época), em 2004 subiu para
R$ 19,3 milhões -8,4%- até julho, devendo variar entre R$ 20,6
milhões e R$ 23,3 milhões no balanço deste ano inteiro.
Mistério
A prefeitura faz mistério sobre
as previsões para 2005. Mantidos
os repasses programados neste
semestre -que foram ajustados
para os impactos da fase pós-bilhete único-, a tendência é que
os "prejuízos" mensais não fiquem abaixo de R$ 25 milhões
-podendo atingir R$ 30 milhões.
De um lado, trata-se de uma
quantia significativa -até 17% da
remuneração de viações e perueiros- para quem fez discursos
contra a prática dos subsídios
adotada em governos anteriores e
que prometia um sistema equilibrado, no qual a receita nas catracas bancaria as despesas.
De outro, além das vantagens
sociais, que abrangem mais de 5
milhões de viagens diárias, ainda
é um valor inferior ao da soma de
subvenções dadas no Estado, cuja
rede de trens e metrô faz 3,5 milhões de viagens diárias -embora os custos do transporte sobre
trilhos sejam tradicionalmente
superiores, e a CPTM faça trajetos
longos na Grande São Paulo.
O primeiro impacto econômico
do bilhete único se refere aos passageiros que pagavam dois ônibus ou lotações em cada viagem
-num total de R$ 3,40- e que
agora pagam R$ 1,70.
Esse contingente, que leva à inevitável queda de arrecadação, não
passava de 5% do total, diz a gestão Marta.
Os técnicos da prefeitura defendem a tese de que a quantidade
maior de beneficiados do cartão
magnético não significa queda de
receita -por ser formada por
passageiros que continuarão contribuindo com a mesma quantia,
mas com a possibilidade de deslocamentos adicionais, utilizando a
capacidade ociosa dos coletivos.
Essa lógica é verdadeira, mas limitada. Proporcionalmente ao
nível de adesão ao bilhete único
-imprevisível-, essa capacidade ociosa deve se esgotar, deixando os coletivos lotados e levando à
necessidade de aumentar a frota,
o que teria impacto nos custos.
Um terceiro fator de preocupação -também imprevisível- se
refere às estratégias do passageiro. Exemplo: alguém que use um
ônibus para fazer uma compra rápida e volte para casa, sem pagar
nova tarifa, por não ter ultrapassado as duas horas. Ninguém na
prefeitura sabe quantos usuários
terão esse comportamento.
(ALENCAR IZIDORO)
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