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Corrente diz que ódio preservou a espécie
da Reportagem Local
O sexo praticado com violência e
sem o consentimento da fêmea é
frequente em muitas espécies animais. Já o ódio dedicado ao estuprador -como acontece com o
homem- é restrito a algumas espécies e assume proporções violentas entre os grandes primatas,
como orangotangos, chipanzés e
gorilas. Entre esses, ao apanhar
um estranho que manteve relações
com uma fêmea do grupo, o macho atira-o da árvore mais alta.
"Os psicobiólogos afirmam
que somos descendentes de homens que conseguiram defender
suas fêmas dos estupradores", diz
o médico Dráuzio Varella. Não tivessem evitado os estupros, a espécie teria desaparecido.
Em seu livro "Guerra de Esperma" (Record), Robin Baker
transforma os conflitos sexuais e
estupros numa batalha de homens
para conquistar e de mulheres para diversificar seu capital genético.
Ao atacar fêmeas de outro grupo,o
macho estaria tentando ampliar
seu patrimônio genético. Por sua
vez, ao reagir e impedir o estupro
por um macho menos dotado, a
fêmea estaria evitando passar a
seus filhotes uma herança fraca e
sem vigor.
A reação ao estupro e ao estuprador vem mudando conforme
os costumes. Nos últimos 500
anos, o estupro passou de dano
social e moral para um dano moral e familiar, conforme mostra o
livro "História do Estupro",
que acaba de ser traduzido pela
editora Zahar. A gravidade era
maior quando o violador era pobre e a vítima, rica.
No século 20, acrescentou-se
também o dano psíquico, afirma
Denise Sant'Anna, historiadora da
PUC de São Paulo e autora do livro
"Políticas do Corpo" (Estação
Liberdade Editora). "Prender e
condenar estupradores é coisa
desse século, quando passa a se
valorizar o consentimento e a livre
escolha' ', afirma. "Até o século
18, agia-se como se os corpos das
mulheres e das crianças não pertencessem a elas."
No entendimento de estupradores nos nossos dias, merece pena
maior aquele que abusou de uma
criança. "Uma mulher adulta
tem como se defender, pode montar uma história para prejudiciar
um homem", diz o preso Alexandre Tarcísio. "Uma criança não
tem não sabe mentir."
(AB)
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