São Paulo, domingo, 16 de agosto de 1998

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ESTUPRO
Para delegada, no interior de São Paulo as mulheres se sentem mais seguras para dar queixa
Mulheres da capital denunciam menos

MALU GASPAR
da Reportagem Local

O registro de ocorrências de estupro em todo o Estado indica que a população denuncia mais esse tipo de crime em outras cidades do que na capital.
Fora da cidade de São Paulo, houve, de janeiro a junho deste ano, 6,2 denúncias de estupro a cada 100 mil habitantes. O número é 19,2% maior que o da capital - 5,2 denúncias a cada 100 mil.
Se ficar comprovada a tendência apontada pelos resultados de 96 e 97, 1998 deve terminar com um saldo de 12,2 denúncias a cada 100 mil habitantes nas outras cidades e 10,05 a cada 100 mil na capital.
Os registros foram feitos em Distritos Policiais e Delegacias de Defesa da Mulher, as DDMs.
Para delegadas da mulher, uma explicação seria a ocorrência de mais estupros fora da capital, o que nenhuma delas se arrisca a confirmar, já que não se pode estimar quantos estupros deixam de ser denunciados.
"O mais provável é que, no interior, as pessoas se sintam mais próximas às instituições e mais seguras para fazer uma denúncia", diz a delegada da mulher de Campinas (99 km a noroeste de São Paulo), Teresinha de Carvalho.
"Acho que também pesa o fato de que, na capital, em meio a tantas ocorrências nos DPs, todos os dias, as mulheres se sintam menos estimuladas a denunciar, achando que o seu caso vai acabar não sendo investigado", diz Ana Lúcia de Souza Marques, delegada em Araçatuba (532 km a noroeste de SP).
Mudança de comportamento
"Há oito anos, quando trabalhei em Araçatuba e em outras cidades, existiam menos denúncias por causa da vergonha e do forte preconceito contra a vítima de estupro", diz a delegada Celi Paulino Carlota, da 9ª DDM da capital.
Para a atual delegada em Araçatuba, houve uma mudança de comportamento nos últimos anos.
"A instalação de delegacias da mulher no interior e a desmistificação da imagem da mulher como a culpada pela violência sexual foram diminuindo a vergonha e o medo de denunciar, de ser reconhecida na rua", diz Ana.
Ana e Celi garantem que, além de machista, está muito longe da realidade a afirmação de que, para ter sofrido o estupro, a mulher deve ter induzido ao crime, com atitudes ou roupas provocantes.
"Normalmente, elas sofrem a violência quando estão indo ou voltando do trabalho ou da faculdade, usando calça jeans, camiseta e tênis", diz Celi.
Teresinha, de Campinas, acha que o sigilo que as delegadas da mulher garantem às vítimas pode ter levado as mulheres do interior a irem mais à delegacia. A inclusão do estupro na lei dos crimes hediondos, em 90, também pode ter influenciado, segundo Ana.



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