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ESTUPRO
Para delegada, no interior de São Paulo as mulheres se sentem mais seguras para dar queixa
Mulheres da capital denunciam menos
MALU GASPAR
da Reportagem Local
O registro de ocorrências de estupro em todo o Estado indica que
a população denuncia mais esse tipo de crime em outras cidades do
que na capital.
Fora da cidade de São Paulo,
houve, de janeiro a junho deste
ano, 6,2 denúncias de estupro a
cada 100 mil habitantes. O número
é 19,2% maior que o da capital -
5,2 denúncias a cada 100 mil.
Se ficar comprovada a tendência
apontada pelos resultados de 96 e
97, 1998 deve terminar com um
saldo de 12,2 denúncias a cada 100
mil habitantes nas outras cidades e
10,05 a cada 100 mil na capital.
Os registros foram feitos em Distritos Policiais e Delegacias de Defesa da Mulher, as DDMs.
Para delegadas da mulher, uma
explicação seria a ocorrência de
mais estupros fora da capital, o
que nenhuma delas se arrisca a
confirmar, já que não se pode estimar quantos estupros deixam de
ser denunciados.
"O mais provável é que, no interior, as pessoas se sintam mais
próximas às instituições e mais seguras para fazer uma denúncia",
diz a delegada da mulher de Campinas (99 km a noroeste de São
Paulo), Teresinha de Carvalho.
"Acho que também pesa o fato
de que, na capital, em meio a tantas ocorrências nos DPs, todos os
dias, as mulheres se sintam menos
estimuladas a denunciar, achando
que o seu caso vai acabar não sendo investigado", diz Ana Lúcia de
Souza Marques, delegada em Araçatuba (532 km a noroeste de SP).
Mudança de comportamento
"Há oito anos, quando trabalhei
em Araçatuba e em outras cidades, existiam menos denúncias
por causa da vergonha e do forte
preconceito contra a vítima de estupro", diz a delegada Celi Paulino Carlota, da 9ª DDM da capital.
Para a atual delegada em Araçatuba, houve uma mudança de
comportamento nos últimos anos.
"A instalação de delegacias da
mulher no interior e a desmistificação da imagem da mulher como
a culpada pela violência sexual foram diminuindo a vergonha e o
medo de denunciar, de ser reconhecida na rua", diz Ana.
Ana e Celi garantem que, além
de machista, está muito longe da
realidade a afirmação de que, para
ter sofrido o estupro, a mulher deve ter induzido ao crime, com atitudes ou roupas provocantes.
"Normalmente, elas sofrem a
violência quando estão indo ou
voltando do trabalho ou da faculdade, usando calça jeans, camiseta
e tênis", diz Celi.
Teresinha, de Campinas, acha
que o sigilo que as delegadas da
mulher garantem às vítimas pode
ter levado as mulheres do interior
a irem mais à delegacia. A inclusão
do estupro na lei dos crimes hediondos, em 90, também pode ter
influenciado, segundo Ana.
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