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Relator critica operações da polícia no Rio e elogia São Paulo
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
As megaoperações da polícia
no Rio "só servem para relações
públicas", diz Philip Alston, autor do relatório da ONU. Para o
advogado, professor visitante
da Universidade de Harvard,
enquanto a situação piora no
Rio, há em São Paulo um esforço para se controlar a polícia.
FOLHA - Como evoluiu a violência
no país nos últimos anos?
PHILIP ALSTON - A situação em
São Paulo está melhorando. As
estatísticas mostram isso. Muitos grupos afirmam que a cifra
de 70% de diminuição de homicídios [dados do governo] é um
exagero, mas mesmo esses concordam que em geral houve
uma melhora. Não é só uma diferença de método de aferição.
É resultado de um esforço do
governo para controlar melhor
a polícia e ter estratégias mais
eficientes. Há mais ênfase em
programas sociais e serviços e
melhor treinamento policial.
Já o Rio está piorando. Lá
não parece haver nenhum controle sobre a polícia e a ênfase é
sempre em megaoperações,
que são só marketing eleitoral.
A operação no complexo do
Alemão, que matou 19 pessoas
[em junho de 2007], (...) foi só
relações públicas.
FOLHA - O problema da violência
do Rio tem solução?
ALSTON - Sim, e são simples.
Não acho que o governo tentou
usar as técnicas policiais que
até São Paulo já desenvolveu.
Os confrontos não ajudam em
nada. Uma megaoperação em
que a polícia sai do morro um
dia depois é uma piada. Os traficantes voltam. Qualquer ação
policial tem que ser coordenada com uma estratégia governamental mais ampla para conquistar o apoio da população.
FOLHA - O sr. fez alguns comentários positivos sobre o caveirão...
ALSTON - Há circunstâncias em
que não há alternativa ao caveirão. Só que a polícia abusou
tanto e ele se tornou um símbolo tão grande de ódio que seu
uso deve ser minimizado.
FOLHA - O relatório diz que policiais classificam mortes sem chance
de defesa como "resistência seguida
de morte" para escapar da punição.
Isso é generalizado?
ALSTON - Sim, e é errado. Quando a polícia mata alguém, deveria haver a presunção de que a
morte foi injustificada, cabendo ao governo justificá-la. O sistema consiste em classificar
qualquer morte cometida pela
polícia como fruto de resistência e não investiga. Então a polícia pode matar quem quiser.
FOLHA - Como o sr. vê a atuação da
polícia após os ataques do PCC?
ALSTON - Nessas situações, a
polícia se vê pressionada a mostrar que pode reagir, e a forma
que encontraram para isso foi
sair e matar um monte de gente. A polícia não tinha o controle da cidade, e matar pessoas
ajuda a esconder isso. É preciso
uma estratégia de longo prazo
para diminuir o poder das gangues, o que inclui uma forte
atuação contra elas nas prisões.
FOLHA - A hierarquia da polícia
brasileira atrapalha?
ALSTON - O sistema brasileiro
está ultrapassado. Um dos problemas é a idéia de uma Polícia
Militar. Vai contra concepções
modernas, que pregam a necessidade de um vasto complexo
de estratégias de segurança. Há
também corrupção e envolvimento em milícias por parte de
PMs. E não há punição.
FOLHA - O que mudar?
ALSTON - Acabar com a classificação de "resistência seguida
de morte". Dar salários mais altos para policiais e carcereiros.
Investigar e punir policiais que
matam e se unem a milícias.
Retomar o controle das prisões
e reduzir a superlotação.
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