São Paulo, domingo, 16 de outubro de 2011

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Acervo da primeira maternidade de SP está abandonado

As informações sobre os nascidos na Maternidade São Paulo estão fechadas há oito anos em prédio sem luz

Disputa jurídica por conta do prédio permite que os dados sejam acessados só com autorização judicial

ESTÊVÃO BERTONI
TALITA BEDINELLI
DE SÃO PAULO

Não se sabe até hoje quem são os pais biológicos de Fábio, 34. Pouco tempo após nascer na Maternidade São Paulo, na capital, ele foi levado para a casa de Sidney Pelizon por um médico amigo da família.
Pelizon, que também é médico, conta que trabalhou durante os anos 1960 na maternidade e teve suas duas filhas lá. Ele e a mulher, a professora de inglês Ecyra, decidiram cuidar do bebê. O amigo morreu sem nunca revelar detalhes do passado do menino.
De Fábio, nascido entre os dias 18 e 20 de dezembro de 1976, nunca foi escondida a adoção. Ele e o médico agora querem saber, além da data exata de nascimento, os nomes dos pais biológicos.
Os dados que a família precisa, porém, estão trancados há pelo menos oito anos num prédio praticamente abandonado e sem luz na rua Frei Caneca, centro de São Paulo.
A maternidade, que funcionava ali, num terreno de 19 mil m˛, fechou em 2003, mergulhada numa dívida de cerca de R$ 40 milhões com fornecedores e funcionários.

LEILÃO
Em 2006, num leilão determinado pelo Tribunal Regional do Trabalho para pagar as dívidas trabalhistas, o edifício foi arrematado pela empresa Casablanc, do mesmo dono do Banco Safra.
Foram pagos R$ 18 milhões, o que gerou contestações judiciais: o valor foi considerado baixo para um lote avaliado em, pelo menos, o dobro do preço.
Com a disputa jurídica que se arrasta desde então, quase 1 milhão de fichas com dados de nascimentos ocorridos a partir de 1894, ano da criação do hospital, estão trancadas sem que ninguém possa tocá-las. O acervo só pode ser acessado com autorização judicial e a presença de um oficial de Justiça.
A maternidade foi a primeira da capital. Também é considerada por alguns historiadores como a primeira existente no país.
No prédio, há ainda históricos do funcionamento do hospital e de funcionários, além de peças naturais e humanas, incluindo fetos usados em estudos. O acervo pode ajudar a contar um século da história da obstetrícia, como escreveu a historiadora Maria Lúcia Mott.
Quando ela publicou um texto na internet, em 2006, defendendo a preservação do acervo, passou a receber mensagens de interessados em descobrir as datas de nascimento, filiação, ou apenas obter cópias de documentos.
Em junho, ela morreu de câncer, sem ver o arquivo em boas mãos. O marido dela, o historiador José Inacio de Melo Souza, ainda é procurado por desconhecidos em busca de informações.



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