São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Subsídio a ônibus é recorde na década

Valor repassado na gestão Kassab neste ano é 75% maior do que Marta Suplicy (PT) repassou em seu último ano de mandato

Disparada dos subsídios ocorreu a partir de julho de 2007, quando o patamar mensal passou de R$ 27 milhões para R$ 37 milhões

DA REPORTAGEM LOCAL

O montante que a gestão Gilberto Kassab (DEM) gastará com subvenções ao transporte em 2008 é recorde na década. Já descontada a inflação, fica 75% acima do que Marta Suplicy (PT) repassou em seu último ano de mandato, em 2004, e 130% superior ao que José Serra (PSDB) desembolsou em seu primeiro ano na prefeitura.
Com essa opção, Kassab está prestes a entrar para a história como quem manteve a mesma passagem por mais tempo, pelo menos nas últimas três décadas. O recorde anterior, de dois anos e quatro meses (entre as gestões Celso Pitta e Marta Suplicy), deve ser batido em abril.
A disparada dos subsídios dados pela prefeitura ocorreu a partir de julho de 2007 (quando pulou do patamar mensal de R$ 27 milhões para R$ 37 milhões) e atingiu seu pico um ano depois, às vésperas das eleições, quando chegou a R$ 86 milhões em um só mês.
Parte do salto está ligada ao fato de a tarifa seguir congelada desde novembro de 2006, enquanto empresas de ônibus e perueiros já tiveram de lá para cá dois reajustes contratuais na sua remuneração, que independe do preço da passagem.
Por outro lado, a prefeitura tem sido alvo de críticas devido à falta de investimentos em infra-estrutura para os ônibus.
O prefeito não construiu nenhuma pista exclusiva completa e atrasou as que prometia, como a conclusão do Expresso Tiradentes (ex-Fura-Fila).
Também atrasou dez obras, principalmente para ajustar paradas em corredores -sobretudo as do cruzamento entre avenidas Rebouças e Faria Lima (zona oeste). Elas foram anunciadas durante a campanha eleitoral para começar neste mês, mas só deverão ser iniciadas no ano que vem.

Gratuidades e descontos
Além de controlar a tarifa, as subvenções são usadas para manter descontos a estudantes e gratuidades a idosos.
A idéia de injetar recursos públicos para cobrar uma passagem mais baixa é defendida por boa parte dos profissionais ligados ao setor de transportes.
Muitos, porém, fazem ressalvas. Uma delas: quanto mais aumentam os subsídios, menos tende a sobrar recursos para melhorar a infra-estrutura.
Outros afirmam que a elevação sucessiva dos repasses deveria vir atrelada a pelo menos dois outros fatores: metas de eficiência e conforto do serviço prestado pelas viações e estudos para reduzir os custos operacionais do sistema.
Pela política de descontos e gratuidades, alguns pobres podem subsidiar alguns ricos: trabalhadores da economia informal, que não têm direito a vale-transporte, pagam a passagem integral e ajudam a bancar os 50% de desconto para um estudante de classe média ou alta.
O economista Alexandre Gomide, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), diz que uma parte desse montante poderia ser usada para custear a tarifa de pessoas da classe E, que não podem pagar nem a tarifa atual, já subsidiada.
"Há pessoas que deixam de sair para procurar emprego porque não têm dinheiro para pagar a passagem, mesmo ela sendo subsidiada. Deveriam ter um benefício extra", afirma.
A cobrança por subsídios também é uma reivindicação histórica das viações de ônibus (com quem Kassab tem proximidade), até porque, diferentemente da alta da tarifa, eles não afastam os usuários da rede.
"No meu tempo, para cada subsídio já queriam me pôr na guilhotina, dizendo que era para favorecer empresário", conta Adhemar Gianini, que foi titular dos transportes na gestão Luiza Erundina (89-92). (AI e RS)


Texto Anterior: Secretário diz que subvenção é "justiça social"
Próximo Texto: Ampliação do Fura-Fila vai atrasar 4 anos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.