São Paulo, segunda-feira, 17 de janeiro de 2005

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Agredido a pedradas tem "morte a esclarecer"

DA REPORTAGEM LOCAL

Assustada, Cristina Barbosa, 31, não saiu de casa ao ouvir gritos e ameaças de morte em um conflito entre vizinhos durante a madrugada. A dona-de-casa, que conhecia as duas famílias que costumavam brigar, diz que a gritaria só foi interrompida depois de um barulho parecido com o de pedras sendo atiradas.
Quando abriu a porta, ela não teve dúvidas do que tinha acontecido em uma viela no Jardim Elisa Maria, zona norte de São Paulo, em novembro passado. Havia sangue e muitas pedras no chão. O portão de seu vizinho Pedro Carlos da Silva, 51, estava caído e ele apresentava um corte profundo na cabeça.
Cristina Barbosa telefonou ainda durante a madrugada para Doralice Silva Carvalho, 48, irmã da vítima, para avisar da agressão. Silva morreu no hospital um dia depois. Foi Doralice quem registrou o boletim de ocorrência.
Cristina não estava no distrito policial, mas Doralice recontou toda a história da briga e das pedradas aos policiais civis. Mesmo assim, o registro foi de "morte a esclarecer".
Doralice afirmou à reportagem que, além do corte na cabeça, seu irmão também apresentava lesões no braço e no rosto. "Não sei por que foi registrado morte a esclarecer. Na hora, estava tão nervosa que não percebi", diz a irmã da vítima.

Assassinato
A dona-de-casa Aparecida Maria Galvão, 47, mulher da vítima, é a mais indignada entre os familiares sobre a dúvida da polícia em relação à causa da morte. "Não há dúvidas de que ele foi assassinado. Foi pancada mesmo", afirma Aparecida Maria.
Ela não estava no local no momento do fato, mas confirma as constantes discussões com os moradores da casa ao lado. "Havia sangue no pátio. Não foi só uma pedrada, não. Ele foi muito espancado", diz.
Aparecida afirma que, em outras circunstâncias, seu marido chegou a sofrer outras agressões dos mesmos vizinhos. Dias depois da morte ele, ela chamou a polícia quando percebeu que o casal se preparava para mudar durante a madrugada. Os vizinhos foram ouvidos pela polícia e depois liberados.
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo afirma que os policiais civis agiram corretamente. Segundo o órgão, havia informações iniciais de que a vítima estava embriagada.
Por isso, segundo a secretaria, os policiais cogitaram a possibilidade de uma queda e resolveram aguardar os laudos necroscópicos, registrando o caso com a natureza morte a esclarecer.
O boletim de ocorrência, no entanto, cita as informações da briga mas não menciona a suposta embriaguez da vítima. A secretaria também informou que foi aberto um inquérito sobre o caso e que "as apurações apontaram para uma agressão a pedrada".


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