São Paulo, quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

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GILBERTO DIMENSTEIN

Ver para ler


Do pós-doutorado de Analívia Cordeiro saíram os vídeos para celular, usando técnicas de alfabetização

UMA NOVA tecnologia para alfabetizar adultos propõe a troca da lousa e da cartilha pela tela do celular. São baixados vídeos de curta duração misturando palavras e imagens -o aluno pode, então, aproveitar as horas perdidas no ônibus ou trem para aprender a ler e escrever. Essa experiência tem origem na paixão de Analívia Cordeiro pelo balé e pela computação. "Desde menina, eu adorava dançar e estudar matemática."
Por pressão familiar, ela se formou em arquitetura pela USP. Preferiu, no entanto, desenhar formas com seu corpo. Mudou-se para Nova York, onde fez cursos de balé contemporâneo.
A matemática ajudou-a a aprender técnicas para fazer programação de movimentos corporais em computadores e assim, sem saber direito, fazia parte da primeira geração que desenvolvia projetos de vídeo-arte.

 

Com a internet e a chegada da banda larga, ela encontraria mais espaço para disseminar seus vídeos, alguns deles inspirados em movimentos de celebridades como Pelé e Marilyn Monroe -há todo um trabalho em cima de uma das famosas bicicletas do jogador. "Eu queria chegar a pessoas que passam muito tempo sentadas e precisam aprender a soltar o corpo."
Estava um tanto entediada em dar aulas e, enfim, tirou proveito do diploma de arquitetura. Começou a construir casas no condomínio em que mora na Granja Viana (Grande São Paulo) e, aí, conheceu a realidade dos operários, quase todos analfabetos totais ou funcionais (não entendem o que leem).
Depois da arquitetura, Analívia fez um mestrado em multimeios e um doutorado em comunicação. Os operários de suas obras inspiraram-na a fazer um pós-doutorado para estudar sobre alfabetização de dispositivos móveis. Saiu, então, com os vídeos para celular, usando as técnicas de alfabetização. "Fiquei imaginando que muitos pobres poderiam baixar os vídeos em seu celular pré-pago."
A ideia é que os vídeos não fossem utilizados isoladamente, como reforço às aulas presenciais.

 

É mais fácil, porém, elaborar um pós-doutorado do que tirar uma ideia do papel. Analívia está à procura de alguma operadora disposta a disseminar seus vídeos e, por enquanto, nada. "Estou convencida de que a tela do celular é a grande plataforma do futuro."
Enquanto não encontra em executivos da telecomunicação que creia no poder de seus vídeos, ela já tinha um possível nome para o projeto: Ver para Ler.

 

PS- Postei na internet (catracalivre.com.br) uma amostra dos projetos de Analívia.


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