São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2010

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Viúva do cartunista diz estar aliviada com prisão do rapaz

"Estamos reagindo com muito dor, mas não somos um povo de vingança", afirma a artista plástica Beatriz Galvão

Mulher de Glauco conta que Carlos Eduardo Nunes parecia estar drogado no dia do crime; "estava com aquela cara que estava na TV"

AFONSO BENITES
DA REPORTAGEM LOCAL

Glauco jamais "gostou de drama nem de sofrimento. Estou sofrendo, mas não vou fazer drama." É assim que a artista plástica Beatriz Galvão Veniss, 49, viúva do cartunista Glauco Vilas Boas, 53, resume o momento que está passando, quatro dias após o assassinato do marido e do enteado, Raoni, 25.
Diz não ter vontade de vingança e que está "aliviada" por saber da prisão de Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, 24, suspeito do crime. "Estamos reagindo com muita dor, mas não somos um povo de vingança. Somos de Cristo e queremos buscar a alegria".
Ao lado da filha Juliana, 31, da namorada de Raoni, Gercila, 25, do enteado Ipojucã, 26, e do neto Unaqui, 6, Beatriz afirma que pretende continuar a obra de Glauco na igreja Céu de Maria, do Santo Daime.

 

FOLHA - Como têm sido esses dias?
BEATRIZ GALVÃO VENISS -
Estamos reunidos [na casa de amigos] porque o assassino ainda estava solto e ameaçando ainda.

FOLHA - Como foi o crime?
BEATRIZ -
Ele abordou Juliana no portão. Nós dois já estávamos deitados, assistindo a um filme, quando Juliana me chamou pela janela. Meu quarto é em cima da casa. Achei esquisito, porque ela tem a chave da minha casa. Ela mora na casa ao lado. Desci primeiro e já a vi com um revólver na cabeça.

FOLHA - A sra. reconheceu Nunes?
BEATRIZ -
Achei que era um ladrão, mas depois reconheci. Glauco desceu logo em seguida, mas não o reconheceu rapidamente. Quando ele viu o Glauco, ele já começou a falar: "Quem é que você vai dizer que é o homem, que é o poderoso? Você não acreditou que eu era Jesus?" E deu um soco no Glauco.
Ele apontava a arma para todos os lados e dizia: "Agora vocês vão ver quem é o poderoso. Eu vou te matar, seu babaca".

FOLHA - Então ele entrou para matar mesmo?
BEATRIZ -
Você não viu o jeito dele na televisão? Ele estava transtornado, mas queria agredir porque o Glauco não acreditou quando ele disse que era Jesus. Glauco chamou ele para conversar e pediu para sentar.
Ele sentou e aquele outro cara que estava com ele [Felipe Iasi] também. Botou a arma na própria cabeça, e o Glauco disse: "Não faz isso, não quero que você se machuque".

FOLHA - Ele tentou interceder?
BEATRIZ -
É, aí ele dizia: "Então você vai comigo para dizer quem é o homem". Glauco saiu da casa com ele e ficaram atrás de uma cerca viva de bambu, na frente de casa. Corri para pegar o telefone e chamar a polícia.
Raoni estava chegando da faculdade com a namorada e com o João Pedro, um amigo dele.
Quando o Raoni viu o Cadu com a arma na cabeça do Glauco, ele gritou: "Que é isso, Cadu? Que está acontecendo aqui?" Gercila disse que o Raoni se ajoelhou pedindo para não fazer nada com o Glauco. Gercila entrou e fiquei na varanda escutando, atrás dessa cerca, rezando com a Juliana. Quando a gente estava rezando, a gente escutou os tiros.

FOLHA - A sra. não viu o crime?
BEATRIZ -
Não. Quando ouvi os tiros, fui correndo. Vimos o Glauco caído para um lado, o Raoni caído para o outro. Nem pensei nele [Nunes].

FOLHA - E o Felipe Iasi?
BEATRIZ -
Quando o Felipe estava dentro de casa, eu perguntei para ele: "Por que você trouxe esse menino aqui?" Ele respondeu: "Você não sabe o que eu passei com esse cara hoje". Aí eu dizia para ele me ajudar, mas ele fez sinal com o ombro de que não podia fazer nada.

FOLHA - Mas Iasi disse à polícia que foi sequestrado por Nunes.
BEATRIZ -
Não posso provar nada. Se ele fugiu, não entendo porque não ligou para a polícia. Só localizaram ele porque a Juliana lembrou a placa do carro.

FOLHA - Como a sra. se sentiu [com a prisão]?
BEATRIZ -
Aliviada. Pelo menos não tenho mais a ameaça desse monstro na minha família. Espero que ele fique preso e não saia nunca mais.

FOLHA ONLINE
Leia a íntegra da entrevista
www.folha.com.br/100755



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