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SAÚDE
Cuidados evitam doenças nas viagens
DA REPORTAGEM LOCAL
O primeiro jantar do gerente
administrativo Paulo Augusto
Vieira, 29, na Bahia há alguns
anos atrapalhou sua semana de
férias e o prato principal, um acarajé, tornou-se a lembrança mais
frequente da viagem. A iguaria
que ele provou em Porto Seguro
fez Vieira perder três dias dentro
do quarto do hotel com problemas gastrointestinais.
Já o infectologista Marcos Boulos não esquece um sanduíche feito com carne comido às pressas
durante um congresso em João
Pessoa (PB) no fim da década de
70. Ele contraiu uma meningite
viral por causa do lanche.
Um levantamento do núcleo de
medicina do viajante do Hospital
Emílio Ribas, de São Paulo, com
185 pessoas, nos primeiros seis
meses de operação do departamento, entre junho e dezembro
de 2000, mostrou que 79% tinham como destino áreas de alto
risco de contaminação por doenças infecciosas.
A "diarréia do viajante" é o
evento médico mais comum nas
viagens; o risco de um episódio
em duas semanas de viagem é de
até 50% na África, no Sudeste
Asiático, no Oriente Médio e na
América Latina, incluindo o Brasil, segundo dados do "Guia das
Doenças do Viajante", lançado no
início do ano pelo Ambulatório
dos Viajantes do Hospital das Clínicas de São Paulo junto com outros parceiros.
"As pessoas ainda preferem ficar doentes para depois procurar
ajuda", disse Boulos, coordenador do ambulatório.
Além do serviço especializado
gratuito do Hospital das Clínicas
de São Paulo (0/xx/11/3069-6392),
no núcleo de medicina do viajante
do Hospital Emílio Ribas (0/xx/
11/3061-5633, ramal 287), também com atendimento gratuito, é
possível fornecer o destino e receber um planejamento completo
para prevenir doenças no decorrer de uma viagem.
Segundo Boulos, cuidados com
a alimentação (veja quadro) são a
única maneira de evitar estragos
nas viagens como o que aconteceu com o gerente administrativo
Paulo Augusto Vieira, que hoje
prefere evitar alimentos típicos.
"Hoje não arrisco mais, só como o que estou acostumado",
afirmou Vieira.
De acordo com especialistas, os
episódios de diarréia ocorrem
não só por causa da comida estragada, mas também pelo fato de o
turista não estar adaptado aos alimentos típicos.
Em alguns locais, os episódios
de mal estar gastrointestinal já ganharam até nomes pomposos, como o mal de Montezuma, no México, uma diarréia muito agressiva, na mesma linha da síndrome
do arroz chinês. Esta última costuma ocorrer porque o arroz,
mantido morno por horas em
restaurantes e depois servido ao
turista, pode acumular bactérias
que não morrem se não passarem
por temperaturas mais altas.
Em até 40% dos casos, a "diarréia dos viajantes" pode levar a
quadros debilitantes, diz o guia.
Alguns agentes infecciosos podem levar a quadros crônicos, alterar a absorção de medicamentos utilizados e ativar outras
doenças inflamatórias intestinais.
É recomendável que o viajante
faça um bom levantamento dos
riscos existentes no destino da
viagem e verifique vacinas que
possam garantir férias mais tranquilas. A hepatite A (veja reportagem nesta página) e a febre tifóide, doenças causadoras de diarréias, são algumas das infecções
que têm vacina.
O turista deve ainda verificar o
risco de outras doenças infecciosas, como malária e febre amarela, ambas transmitida por mosquitos. A vacina da febre amarela
é a única obrigatória para alguns
destinos pela OMS (Organização
Mundial de Saúde).
No caso da malária, não há vacina, mas remédios que podem diminuir o risco de contaminação.
Outra saída para escapar de doenças transmitidas por vetores é evitar insetos e carrapatos.
De acordo com a coordenadora
do núcleo de medicina do viajante
do Emílio Ribas, Marise Oliveira
Fonseca, no Brasil o turista corre
o risco de contrair malária e febre
amarela no norte e centro oeste
do país e em parte do Maranhão.
Houve surtos recentes em Minas
Gerais, na região de Divinópolis.
Segundo Boulos, entre as vacinas recomendáveis, aquelas contra doenças transmitidas por gotículas de saliva (gripe, varicela,
meningite) incidentes principalmente em regiões frias -onde as
pessoas costumam ficar muito
tempo em locais fechados- são
indicadas quando ocorrem epidemias no destino do viajante.
Já a vacina contra raiva só é indicada antes da viagem para pessoas que possam se expor a ataques de animais como o morcego.
O reforço da imunização contra
poliomielite é recomendável para
quem recebeu a vacina há mais de
dez anos e a vacina pneumocócica, contra a pneumonia, é indicada principalmente para idosos e
pessoas debilitadas que se dirigem aos países frios.
A vacina contra encefalite japonesa B não existe no Brasil, disse
Boulos, e quem quiser tem de
procurar fazer a imunização em
outro país.
Segundo estatísticas internacionais apresentadas no início do
ano em uma jornada sobre medicina dos viajantes nos EUA, 20% a
50% dos viajantes relatam algum
tipo de problema durante a viagem. Até 5% buscam atendimento médico em viagens internacionais e até 0,1% recorrem a atendimento emergencial. Um em 100
mil morrem na viagem.
O risco das doenças sexualmente transmissíveis também não pode ser esquecido durante as viagens. Até 5% dos que fazem viagens curtas fazem sexo casual enquanto estão fora, mas poucos
usam camisinha, mostrou um estudo internacional.
Há vacinas contra a hepatite B,
por exemplo, mas só a camisinha
protege contra todas essas doenças e também contra a Aids.
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