São Paulo, domingo, 17 de junho de 2001

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SAÚDE

Cuidados evitam doenças nas viagens

DA REPORTAGEM LOCAL

O primeiro jantar do gerente administrativo Paulo Augusto Vieira, 29, na Bahia há alguns anos atrapalhou sua semana de férias e o prato principal, um acarajé, tornou-se a lembrança mais frequente da viagem. A iguaria que ele provou em Porto Seguro fez Vieira perder três dias dentro do quarto do hotel com problemas gastrointestinais.
Já o infectologista Marcos Boulos não esquece um sanduíche feito com carne comido às pressas durante um congresso em João Pessoa (PB) no fim da década de 70. Ele contraiu uma meningite viral por causa do lanche.
Um levantamento do núcleo de medicina do viajante do Hospital Emílio Ribas, de São Paulo, com 185 pessoas, nos primeiros seis meses de operação do departamento, entre junho e dezembro de 2000, mostrou que 79% tinham como destino áreas de alto risco de contaminação por doenças infecciosas.
A "diarréia do viajante" é o evento médico mais comum nas viagens; o risco de um episódio em duas semanas de viagem é de até 50% na África, no Sudeste Asiático, no Oriente Médio e na América Latina, incluindo o Brasil, segundo dados do "Guia das Doenças do Viajante", lançado no início do ano pelo Ambulatório dos Viajantes do Hospital das Clínicas de São Paulo junto com outros parceiros.
"As pessoas ainda preferem ficar doentes para depois procurar ajuda", disse Boulos, coordenador do ambulatório.
Além do serviço especializado gratuito do Hospital das Clínicas de São Paulo (0/xx/11/3069-6392), no núcleo de medicina do viajante do Hospital Emílio Ribas (0/xx/ 11/3061-5633, ramal 287), também com atendimento gratuito, é possível fornecer o destino e receber um planejamento completo para prevenir doenças no decorrer de uma viagem.
Segundo Boulos, cuidados com a alimentação (veja quadro) são a única maneira de evitar estragos nas viagens como o que aconteceu com o gerente administrativo Paulo Augusto Vieira, que hoje prefere evitar alimentos típicos.
"Hoje não arrisco mais, só como o que estou acostumado", afirmou Vieira.
De acordo com especialistas, os episódios de diarréia ocorrem não só por causa da comida estragada, mas também pelo fato de o turista não estar adaptado aos alimentos típicos.
Em alguns locais, os episódios de mal estar gastrointestinal já ganharam até nomes pomposos, como o mal de Montezuma, no México, uma diarréia muito agressiva, na mesma linha da síndrome do arroz chinês. Esta última costuma ocorrer porque o arroz, mantido morno por horas em restaurantes e depois servido ao turista, pode acumular bactérias que não morrem se não passarem por temperaturas mais altas.
Em até 40% dos casos, a "diarréia dos viajantes" pode levar a quadros debilitantes, diz o guia. Alguns agentes infecciosos podem levar a quadros crônicos, alterar a absorção de medicamentos utilizados e ativar outras doenças inflamatórias intestinais.
É recomendável que o viajante faça um bom levantamento dos riscos existentes no destino da viagem e verifique vacinas que possam garantir férias mais tranquilas. A hepatite A (veja reportagem nesta página) e a febre tifóide, doenças causadoras de diarréias, são algumas das infecções que têm vacina.
O turista deve ainda verificar o risco de outras doenças infecciosas, como malária e febre amarela, ambas transmitida por mosquitos. A vacina da febre amarela é a única obrigatória para alguns destinos pela OMS (Organização Mundial de Saúde).
No caso da malária, não há vacina, mas remédios que podem diminuir o risco de contaminação. Outra saída para escapar de doenças transmitidas por vetores é evitar insetos e carrapatos.
De acordo com a coordenadora do núcleo de medicina do viajante do Emílio Ribas, Marise Oliveira Fonseca, no Brasil o turista corre o risco de contrair malária e febre amarela no norte e centro oeste do país e em parte do Maranhão. Houve surtos recentes em Minas Gerais, na região de Divinópolis.
Segundo Boulos, entre as vacinas recomendáveis, aquelas contra doenças transmitidas por gotículas de saliva (gripe, varicela, meningite) incidentes principalmente em regiões frias -onde as pessoas costumam ficar muito tempo em locais fechados- são indicadas quando ocorrem epidemias no destino do viajante.
Já a vacina contra raiva só é indicada antes da viagem para pessoas que possam se expor a ataques de animais como o morcego.
O reforço da imunização contra poliomielite é recomendável para quem recebeu a vacina há mais de dez anos e a vacina pneumocócica, contra a pneumonia, é indicada principalmente para idosos e pessoas debilitadas que se dirigem aos países frios.
A vacina contra encefalite japonesa B não existe no Brasil, disse Boulos, e quem quiser tem de procurar fazer a imunização em outro país.
Segundo estatísticas internacionais apresentadas no início do ano em uma jornada sobre medicina dos viajantes nos EUA, 20% a 50% dos viajantes relatam algum tipo de problema durante a viagem. Até 5% buscam atendimento médico em viagens internacionais e até 0,1% recorrem a atendimento emergencial. Um em 100 mil morrem na viagem.
O risco das doenças sexualmente transmissíveis também não pode ser esquecido durante as viagens. Até 5% dos que fazem viagens curtas fazem sexo casual enquanto estão fora, mas poucos usam camisinha, mostrou um estudo internacional.
Há vacinas contra a hepatite B, por exemplo, mas só a camisinha protege contra todas essas doenças e também contra a Aids.



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