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SEGURANÇA
Há 146 brasileiros detidos em presídios no país vizinho, incluindo menores; consulado mantém dois advogados
Detentos no Paraguai denunciam abandono
MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CIUDAD DEL ESTE
Brasileiros presos em penitenciárias do Paraguai, a maioria ainda sem condenação, reclamam de
abandono do governo brasileiro e
da falta de perspectivas jurídicas
para ganhar liberdade e voltar ao
Brasil, para perto das famílias.
Um levantamento feito esta semana pela Agência Folha nos 14
presídios paraguaios apontou que
há 146 brasileiros presos em 11 cadeias no Paraguai: 10 são mulheres e 6, adolescentes, de 15 a 17
anos. Há casos de outros adolescentes que completaram 18 anos
esperando julgamento na prisão.
O Consulado do Brasil em Ciudad del Este tem dois advogados
para defender os brasileiros, mas
os presos dizem que eles são ausentes. "Aqui é a lei do Satanás.
Fazem o que querem com a gente", diz R.C.S., 16, de Foz do Iguaçu, condenado em maio a oito
anos por duplo homicídio.
R.C.S. e outros três adolescentes
convivem com adultos sem qualquer restrição na Penitenciária
Regional dos Departamentos (Estados) de Alto Paraná e Canindeyú, em Ciudad del Este. A prisão
concentra o maior número de
brasileiros pela proximidade da
fronteira com Foz do Iguaçu.
A terceira maior penitenciária
do Paraguai mantém 62 brasileiros espalhados pelas oito galerias
superlotadas, com mais 404 presos. A capacidade da prisão é de
metade disso, segundo o diretor
do presídio, Pedro Galeano Gaona. Em condições um pouco melhores, cinco brasileiras estão presas na penitenciária feminina.
A falta de apoio jurídico do consulado foi a queixa comum entre
15 presos ouvidos pela Agência
Folha. "Eles não aparecem aqui
desde dezembro", afirma o baiano Reinaldo Novaes Oliveira, 32,
preso há dois anos e condenado a
cinco, por tráfico de maconha.
Uma prova do descaso, apontam os presos, é o corpo de Emerson Ramos Magrini, que espera
há seis meses por remoção para o
Brasil. Magrini, 25, foi um dos 24
mortos em um incêndio que se seguiu a uma rebelião em dezembro. O corpo está guardado numa
funerária de Cuidad del Este.
A família, de São José dos Campos (SP), não tem condições de
pagar os cerca de R$ 7.000 das
despesas de transferência, segundo a advogada Maribel de Acosta.
O abandono é confirmado por
irmã Olga Cecília Pasqual, 82, da
Pastoral Carcerária, que vive há
25 anos no Paraguai. "O consulado paga dois advogados em dólar,
mas nenhum faz nada", diz. Ela
afirma que houve causas perdidas
na Suprema Corte, em Assunção,
por falta de acompanhamento.
A juíza penal de Garantias, Beatriz Venialgo de Palacios, 50, reforça as críticas. "Parece-nos claro
que há aí um problema de consulado." Os que podem pagar, diz a
juíza, recorrem a advogados particulares. Quem não tem recursos
é atendido por defensores públicos paraguaios. Fichas exibidas
por alguns presos confirmam trocas de até cinco advogados.
O cônsul-geral do Brasil em
Ciudad del Este, Antonio José Rezende de Castro, confirma o vínculo de dois advogados, mas nega
a falta de assistência.
Uma lei publicada pelo Senado
brasileiro, em 23 de maio, passa a
ser a maior expectativa de futuro
dos brasileiros que vivem nas penitenciárias paraguaias. Por ela,
as áreas diplomáticas de Brasil e
Paraguai vão poder colocar em
prática um acordo bilateral de
troca de presos. No Senado paraguaio, esse intercâmbio já foi
aprovado há um ano. O tratado
também pode beneficiar pelo menos 84 paraguaios no Brasil.
A assessoria de imprensa do Ministério das Relações Exteriores,
em Brasília, informou que, com a
publicação da lei, não existem
mais entraves para que os advogados dos presos brasileiros iniciem os processos de pedido de
transferência. O que está faltando,
segundo o Itamaraty, é mera formalidade entre os dois países.
Colaborou a Agência Folha, em Foz do
Iguaçu
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