São Paulo, segunda-feira, 17 de junho de 2002

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Presos delatam inação de consulado

DA AGÊNCIA FOLHA, EM CIUDAD DEL ESTE

Depois de uma missa pela manhã, seis jovens presos da penitenciária de Ciudad del Este se reúnem. Entre eles, o brasileiro R.C.S., 16, condenado a oito anos por um duplo homicídio.
A defesa pediu condenação do garoto por co-autoria, mas três juízes que o julgaram decidiram pela acusação de autor dos homicídios. A advogada dele, Maribel de Acosta, disse que vai apelar.
"Houve "falhas gritantes" no julgamento, pois existia só uma arma do crime, não houve prova de balística, e a investigação não foi aprofundada", diz ela.
R.C.S., que mora em Foz do Iguaçu, conta que os crimes aconteceram quando estava em férias no Paraguai. "Fui cobrar uma dívida com meus primos. Quando começou uma briga, saí do local e então ouvi os tiros", afirma ele, que não tinha passagem na polícia no Brasil e frequentava escola.
Antes frequentes, as visitas da família começaram a rarear. "Falta dinheiro para a viagem." Ele diz que a última visita do advogado do consulado foi há sete meses.
A maioria dos presos na penitenciária de Ciudad del Este ouvidos pela Agência Folha diz não ter documentos paraguaios legalizados, o que dificulta a defesa.
Pela lista dos 146 presos passada pelas direções dos presídios -não há informatização nas unidades, e os dados podem não ser precisos- , os casos de homicídio lideram com 29% as causas de prisões de brasileiros, seguidos por tráfico de drogas (26%) e por roubo e furto, com 17%.
Condenado a cinco anos por tráfico de maconha, Reinaldo Novaes Oliveira, 32, já cumpriu dois. Baiano de Jequié, ele se diz "sacoleiro comum, vítima da arbitrariedade". "Esconderam 44 kg de maconha nas minhas sacolas", disse. Oliveira se queixa de fome. "A última cesta básica que recebemos do consulado foi no Natal."
Preso antes de ter 18 anos, M.T. não quer ser identificado e diz que atuava no tráfico de drogas desde os 14. Ele é de Ponta Porã (MS) e está preso há mais de dois anos. Foi condenado a cinco anos. Não se arrepende do que fazia. A única queixa é de estar preso. "Mas, se sair daqui, talvez volte ao tráfico."
Carlos Alexandre Kaiper, 26, diz ter sido condenado a dez anos por tráfico por não ter residência fixa no Paraguai. "A Justiça daqui não trabalha bem com a gente, pois não temos dinheiro."



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