FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

O Conselho Federal de Psicologia reconheceu a acupuntura como "recurso complementar no trabalho do psicólogo", permitindo a prescrição e aplicação do método terapêutico pelos profissionais da área.
A resolução número 5 do conselho, de 24 de maio deste ano, afirma que o profissional precisa comprovar formação em curso específico de acupuntura para poder utilizar o método em tratamentos. O conselho discutiu o tema durante dois anos até formular a resolução.
A acupuntura é uma das principais terapias da medicina tradicional chinesa. O método utiliza a aplicação de agulhas e outros instrumentos.
De acordo com Ana Mercês Bahia Bock, presidente do Conselho Regional de Psicologia do Estado de São Paulo, uma solicitação do Conselho Regional de Psicologia do Estado da Paraíba foi o gatilho para o início do debate.
Segundo Ana, o que aproxima a acupuntura da psicologia é a visão "global" do paciente que ambas partilham. Ela destaca que a terapia não foi reconhecida como um tipo de psicoterapia.
Ela não tem estimativas de quantos dos 115 mil psicólogos do país irão se beneficiar da decisão. Segundo Ana, a acupuntura poderá, por exemplo, ser adicionada aos recursos da abordagem corporal da psicologia, que considera o corpo como via de tratamento -massagens e outras técnicas de relaxamento já são usadas.
O psicólogo e acupunturista Luiz Bernardo Leonelli diz que a resolução "abre um leque no mercado de trabalho". Leonelli utilizava a acupuntura separada da sua atuação como psicólogo, uma vez que não tinha o respaldo do conselho. De acordo com ele, o método pode auxiliar em uma série de problemas psicológicos.
Traz benefícios, por exemplo, no tratamento da ansiedade ligada à compulsão alimentar. "Mas a acupuntura sozinha não é um tipo de terapia psicológica. Ela não resolve tudo", afirma o profissional. "A acupuntura faz parte das práticas complementares."

Resistência
Os psicólogos, assim como já ocorre com outros profissionais de saúde, também deverão enfrentar a "ira" do Conselho Federal de Medicina, que considera a acupuntura um ato médico -só poderia ser prescrito e aplicado por esse profissional.
A chefe do setor jurídico do conselho federal, Gisele Lettieri Gracindo, disse, na última quinta-feira, que prepara uma ação para derrubar a resolução do conselho de psicologia na Justiça.
"A acupuntura é um tratamento e precisa de diagnóstico. Sem diagnóstico, não trata os sintomas. E quem tem condições de fazer o diagnóstico total é o médico. Existem pontos bastante perigosos e uma pessoa menos preparada pode causar problemas sérios", afirma José Manoel Bombarda, coordenador da Câmara Técnica de Acupuntura do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo.
Mas o vice-presidente da Associação Brasileira de Acupuntura, o médico Ruy César Cordeiro, afirma que outros profissionais podem aplicar a técnica, desde que preparados. A entidade defende a regulamentação da atividade do acupunturista no Congresso. Quer a criação de um curso superior específico. "A acupuntura é maior do que a clínica médica." A entidade estima que existam cerca de 35 mil pessoas no país aplicando a acupuntura.



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