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Reitora diz que só negocia após desocupação
Suely Vilela não garante nenhuma reivindicação dos invasores da reitoria da USP, mesmo as já concedidas
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A reitora da USP, Suely Vilela, endureceu o discurso e disse
que não vai realizar nenhum tipo de negociação com os estudantes e servidores enquanto o
prédio, invadido há 45 dias, não
for desocupado.
"A retomada de qualquer negociação acha-se vinculada à
imediata desocupação das dependências dos prédios da reitoria", afirmou ela.
Os manifestantes pedem
uma audiência com Suely desde a última terça-feira após a
aprovação do um indicativo de
desocupação. Eles enviaram
por e-mail um documento com
seus pedidos, como ela exigia.
Na entrevista à Folha, a reitora disse não garantir a concessão de nenhuma das reivindicações, nem mesmo as concedidas em reuniões anteriores. Ela deixa claro, entretanto,
que não há negociação sobre a
não-punição dos invasores e
que eles serão punidos.
Leia a seguir trechos da entrevista em entrevista feita por
e-mail. As perguntas foram enviadas na quarta-feira e respondidas anteontem.
FOLHA - A reitoria pode atender
aos pedidos feitos pelos alunos?
Quais não pode e por quê?
SUELY VILELA - Vários itens que
constam das reivindicações dos
ocupantes da reitoria já vinham
sendo discutidos ou implementados, muito antes da ocupação. A política de permanência
estudantil e as reformas e construção de prédios da FFLCH
[Faculdade de Filosofia, Letras
e Ciências Humanas] são alguns desses itens, cuja continuidade se encontra prejudicada em razão da ocupação.
A discussão do estatuto foi
iniciada em dezembro de 2005,
na primeira reunião do Conselho Universitário desta gestão.
Os atos ligados ao exercício
do direito de greve e de protesto estão assegurados pela
Constituição, mas o abuso deve
ser repelido. Assim, a apuração
dos fatos decorrentes de ocupação tem que ser feita, como mecanismo normal e obrigatório
de aferição administrativa.
É necessário deixar claro que
o acolhimento de algumas reivindicações sempre esteve vinculado à desocupação imediata,
e ela não ocorreu. Dessa forma,
nenhuma concessão foi efetuada até o momento.
FOLHA - A reitoria chegou a garantir a não-punição aos alunos, mas recuou. O que aconteceu?
VILELA - Não houve recuo. A
reitoria, em momento algum,
declinou do poder de apuração
de abuso, danos e prejuízos.
FOLHA - A senhora vai receber os
alunos para reunião. Por quê?
VILELA - A administração central sempre esteve aberta ao
diálogo. No entanto, diante das
circunstâncias, está claro que a
retomada de qualquer negociação acha-se vinculada à imediata desocupação das dependências dos prédios da reitoria.
FOLHA - Sobre o pedido de reintegração de posse, a senhora seguiu
orientação de alguém? Acredita ter
feito a melhor opção e faria de novo? A possível entrada da PM no
campus, em razão do pedido de
reintegração de posse feito pela senhora, provocou um mal-estar no
governo Serra. O governador falou
com a senhora sobre isso?
VILELA - Tendo em vista que a
universidade é pública, o seu
patrimônio é público, mantido
pela população, e ante a relutância encontrada em desocupar o prédio, após diálogos infrutíferos, era responsabilidade
legal da reitoria pedir a reintegração de posse.
Ressalte-se que o não-acesso
ao prédio acarreta prejuízos de
ordem administrativa, financeira e acadêmica, uma vez que
nele funciona a administração
central da universidade. A ação
de reintegração de posse é medida natural do Estado de Direito. Com a propositura da
ação, a universidade adotou as
medidas legais necessárias e o
cumprimento da liminar obtida escapa da sua competência.
FOLHA - A senhora acredita que o
movimento dos estudantes pode ter
sido influenciado por algum tipo de
força política?
VILELA - É difícil, no momento,
aferir essa influência. Entretanto, as principais reivindicações dos diferentes segmentos
da comunidade acadêmica, ao
lado de outras de caráter específico, apresentam forte conotação política.
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