São Paulo, domingo, 17 de junho de 2007

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Reitora diz que só negocia após desocupação

Suely Vilela não garante nenhuma reivindicação dos invasores da reitoria da USP, mesmo as já concedidas

ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A reitora da USP, Suely Vilela, endureceu o discurso e disse que não vai realizar nenhum tipo de negociação com os estudantes e servidores enquanto o prédio, invadido há 45 dias, não for desocupado.
"A retomada de qualquer negociação acha-se vinculada à imediata desocupação das dependências dos prédios da reitoria", afirmou ela. Os manifestantes pedem uma audiência com Suely desde a última terça-feira após a aprovação do um indicativo de desocupação. Eles enviaram por e-mail um documento com seus pedidos, como ela exigia.
Na entrevista à Folha, a reitora disse não garantir a concessão de nenhuma das reivindicações, nem mesmo as concedidas em reuniões anteriores. Ela deixa claro, entretanto, que não há negociação sobre a não-punição dos invasores e que eles serão punidos.
Leia a seguir trechos da entrevista em entrevista feita por e-mail. As perguntas foram enviadas na quarta-feira e respondidas anteontem.

FOLHA - A reitoria pode atender aos pedidos feitos pelos alunos? Quais não pode e por quê?
SUELY VILELA
- Vários itens que constam das reivindicações dos ocupantes da reitoria já vinham sendo discutidos ou implementados, muito antes da ocupação. A política de permanência estudantil e as reformas e construção de prédios da FFLCH [Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas] são alguns desses itens, cuja continuidade se encontra prejudicada em razão da ocupação. A discussão do estatuto foi iniciada em dezembro de 2005, na primeira reunião do Conselho Universitário desta gestão. Os atos ligados ao exercício do direito de greve e de protesto estão assegurados pela Constituição, mas o abuso deve ser repelido. Assim, a apuração dos fatos decorrentes de ocupação tem que ser feita, como mecanismo normal e obrigatório de aferição administrativa. É necessário deixar claro que o acolhimento de algumas reivindicações sempre esteve vinculado à desocupação imediata, e ela não ocorreu. Dessa forma, nenhuma concessão foi efetuada até o momento.

FOLHA - A reitoria chegou a garantir a não-punição aos alunos, mas recuou. O que aconteceu?
VILELA
- Não houve recuo. A reitoria, em momento algum, declinou do poder de apuração de abuso, danos e prejuízos.

FOLHA - A senhora vai receber os alunos para reunião. Por quê?
VILELA
- A administração central sempre esteve aberta ao diálogo. No entanto, diante das circunstâncias, está claro que a retomada de qualquer negociação acha-se vinculada à imediata desocupação das dependências dos prédios da reitoria.

FOLHA - Sobre o pedido de reintegração de posse, a senhora seguiu orientação de alguém? Acredita ter feito a melhor opção e faria de novo? A possível entrada da PM no campus, em razão do pedido de reintegração de posse feito pela senhora, provocou um mal-estar no governo Serra. O governador falou com a senhora sobre isso?
VILELA
- Tendo em vista que a universidade é pública, o seu patrimônio é público, mantido pela população, e ante a relutância encontrada em desocupar o prédio, após diálogos infrutíferos, era responsabilidade legal da reitoria pedir a reintegração de posse. Ressalte-se que o não-acesso ao prédio acarreta prejuízos de ordem administrativa, financeira e acadêmica, uma vez que nele funciona a administração central da universidade. A ação de reintegração de posse é medida natural do Estado de Direito. Com a propositura da ação, a universidade adotou as medidas legais necessárias e o cumprimento da liminar obtida escapa da sua competência.

FOLHA - A senhora acredita que o movimento dos estudantes pode ter sido influenciado por algum tipo de força política?
VILELA
- É difícil, no momento, aferir essa influência. Entretanto, as principais reivindicações dos diferentes segmentos da comunidade acadêmica, ao lado de outras de caráter específico, apresentam forte conotação política.


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