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SAÚDE/ ONCOLOGIA
Mulheres já podem tratar câncer durante a gravidez
A quimioterapia pode ser feita sem interromper a gestação, desde o pré-natal
Com o aumento dos casos, o Hospital das Clínicas de SP montou um ambulatório específico para as gestantes; neste ano, já são 7 mulheres
ISABELA MENA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Grávidas com câncer já podem tratar a doença sem precisar interromper a gestação. As
sessões de quimioterapia feitas
ainda no pré-natal não prejudicam o bebê, que nasce saudável.
O aumento do número de casos levou o Hospital das Clínicas a montar um ambulatório
específico para tumores durante a gravidez. Só no ano passado, seis mulheres foram atendidas com sucesso e, neste ano,
há sete gestantes até agora.
De acordo com o obstetra
Waldemir Resende, da Clínica
de Ginecologia do HC, até
2003, a maior parte das doenças ginecológicas diagnosticadas durante a gravidez era benigna, como miomas ou má-formação do útero.
A partir daquele ano, aumentou o número de grávidas com
tumores malignos, e houve
uma mudança na conduta médica: o tratamento quimioterápico do câncer da mãe poderia
ser feito sem a necessidade da
interrupção da gestação, até
então indicada para evitar o risco de morte materno. A gravidez e o bebê estavam preservados. "As próprias pacientes se
recusavam a abortar e diziam
que ou ficavam com a criança
ou não tratavam o câncer", diz
o obstetra. "Percebemos que
seria possível fazer os dois, já
que a mãe pode ser tratada com
algumas drogas que permitem
a evolução da gravidez, sem
prejuízo ao bebê", completa.
Segundo o obstetra Pedro
Luiz Lacordia, chefe do setor de
oncologia ginecológica pélvica
da Unifesp, algumas drogas não
são usadas em grávidas porque,
classificadas como antimetabólicas, podem ocasionar má
formação fetal. "Mas a mulher
grávida pode e deve ser tratada
com quimioterapia, apenas evitamos esses medicamentos."
De acordo com Resende,
além da dose e do tipo de droga,
a quimioterapia em gestantes
tem de obedecer a regras próprias quanto ao início e ao fim
do tratamento. A primeira sessão só pode ser feita a partir da
15ª semana, período de formação dos órgãos do feto. "Com os
órgãos já prontos, há menos
chance de o bebê ter algum
efeito colateral", diz Resende.
Em casos de câncer de mama, o risco de má formação fetal em mulheres que começam
a quimioterapia findo o primeiro trimestre de gestação é de
14% em média, contra 30% no
início da gravidez.
Dentro da barriga da mãe, o
bebê é protegido tanto pela placenta como por órgãos maternos, como fígado e rins, que
ajudam a depurar a droga. Mesmo assim, a última sessão de
quimio tem de acontecer entre
quatro e seis semanas antes do
parto para que o organismo fetal seja desintoxicado de qualquer resíduo quimioterápico.
Chefe do departamento de
ginecologia do Hospital do
Câncer, o ginecologista e obstetra Wagner Gonçalves conta
que um dos primeiros relatos
na literatura mundial de tratamento quimioterápico na vigência da gravidez aconteceu
há quase dez anos no Brasil.
Um médico de Ribeirão Preto
provou ser possível utilizar certas drogas pré-natal, afirma.
"No passado, achava-se que
era preciso sacrificar o nenê para ter sucesso no tratamento do
câncer, mas isso não é mais verdade. Essa visão de que a quimioterapia é proibida na gravidez caiu por terra", diz. "Hoje, a
maior parte dos cânceres é tratada no pré-natal, e muitos deles com quimioterapia."
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