São Paulo, sexta-feira, 17 de julho de 2009

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BARBARA GANCIA

A vez de Tania "Bilhões"


Era tudo muito rococó, com umas atendentes que mais pareciam uma ala temática do bombom Sonho de Valsa

FUI BATER PIQUE no sul da França. Não deu tempo para tirar o amarelado do inverno paulista como gostaria, de comer todas as moules marinières (mariscos ao tempero provençal) que mereceria, nem de sentar no Sénéquier, o famoso café do porto de St.-Tropez, para passar tardes e mais tardes lendo os jornais e revistas a que teria direito, mas ao menos pude dar uma bela arejada no espírito.
Tão ditosa foi a minha ventilada na alma que, ao voltar, ainda impregnada pela magia da Côte D'Azur, me iludi de que o mundo pudesse estar mais róseo. No trajeto do aeroporto de Guarulhos para casa, perguntei ao motorista do táxi se Sarney tinha caído. Santa ingenuidade a minha.
Acabei descobrindo que a única pessoa da minha gama de interesses a ser defenestrada do cargo no curto espaço de tempo em que me ausentei do país foi o Mancini, técnico do meu Santos. Imagine o Sarney ser atropelado por um fato menor, feito um Al Capone qualquer, ter sua famosa "biografia" jogada pelos ares? Só uma bocó como esta humilde datilógrafa para pensar uma asneira dessas, não é mesmo?
Entrei em casa, desfiz as malas e logo soube de outra notícia, desta vez com sabor de "déjà vu": a Polícia Federal estava cumprindo mandados de busca na loja de Tania "Bilhões", nome pelo qual a empresária Tania Bulhões é conhecida no high society.
O que seria isso, "Daslu, o Retorno"? "Daslu Reloaded"? "A Filha de Daslu?" Lembrei da primeira e única vez em que fui à loja da mulher do empresário Pedro Grendene. Tinha sido convidada e não queria ir de jeito nenhum. Já sabia que iria aterrissar no templo do mau gosto, que passaria um apuro bárbaro e que sairia de lá chutando o primeiro cachorro que encontrasse na rua.
Mas fui assim mesmo, para dar apoio a uma colega jornalista. Dito e feito, sai da loja como aquela menina de "O Exorcista", com os olhos revirando nas órbitas. Não lembro com exatidão dos preços, e certamente estarei exagerando, mas havia coisas tipo uma colherzinha de café por R$ 3.000, uma almofadinha por R$ 4.000, um copo de licor sem graça de Baccarat por R$ 5.000, absurdos nessa base.
E era tudo muito rococó, com umas atendentes gravitando em torno da clientela que mais pareciam uma ala temática patrocinada pelo bombom Sonho de Valsa. Enfim, era um escândalo em matéria de excesso e despropósito. Mas veja: não estou aqui defendendo uma cruzada contra a gastança. Jogar dinheiro pela janela é tudo o que almejo na vida. Também não faço a menor ideia se dona Tania fraudou ou não os impostos.
Em todo caso, creio que ela já pode ser considerada duplamente imputável. Primeiro, por crueldade contra as amigas (deduzo que só suas amigas faziam o favor de comprar aqueles trique-triques horrendos e superfaturados) e, segundo, por infestar o mundo de objetos repugnantes.
Essa história não deixa de ter sua ponta de mistério. Como sabemos, o caso Daslu foi deflagrado em 2005 e a investigação na loja de Tania começou um ano mais tarde. Será possível que, com todo o poderio da Grendene, não passou pela cabeça do marido contratar os serviços de um bom contador?

barbara@uol.com.br

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