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BARBARA GANCIA
A vez de Tania "Bilhões"
Era tudo muito rococó, com umas atendentes que mais pareciam uma ala temática
do bombom Sonho de Valsa
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FUI BATER PIQUE no sul da
França. Não deu tempo para
tirar o amarelado do inverno
paulista como gostaria, de comer todas as moules marinières (mariscos
ao tempero provençal) que mereceria, nem de sentar no Sénéquier, o
famoso café do porto de St.-Tropez,
para passar tardes e mais tardes lendo os jornais e revistas a que teria direito, mas ao menos pude dar uma
bela arejada no espírito.
Tão ditosa foi a minha ventilada
na alma que, ao voltar, ainda impregnada pela magia da Côte D'Azur, me iludi de que o mundo pudesse estar mais róseo. No trajeto do aeroporto de Guarulhos para casa,
perguntei ao motorista do táxi se
Sarney tinha caído. Santa ingenuidade a minha.
Acabei descobrindo que a única
pessoa da minha gama de interesses
a ser defenestrada do cargo no curto
espaço de tempo em que me ausentei do país foi o Mancini, técnico do
meu Santos. Imagine o Sarney ser
atropelado por um fato menor, feito
um Al Capone qualquer, ter sua famosa "biografia" jogada pelos ares?
Só uma bocó como esta humilde datilógrafa para pensar uma asneira
dessas, não é mesmo?
Entrei em casa, desfiz as malas e
logo soube de outra notícia, desta
vez com sabor de "déjà vu": a Polícia
Federal estava cumprindo mandados de busca na loja de Tania
"Bilhões", nome pelo qual a empresária Tania Bulhões é conhecida no
high society.
O que seria isso, "Daslu, o Retorno"? "Daslu Reloaded"? "A Filha de
Daslu?" Lembrei da primeira e única vez em que fui à loja da mulher do
empresário Pedro Grendene. Tinha
sido convidada e não queria ir de jeito nenhum. Já sabia que iria aterrissar no templo do mau gosto, que
passaria um apuro bárbaro e que
sairia de lá chutando o primeiro cachorro que encontrasse na rua.
Mas fui assim mesmo, para dar
apoio a uma colega jornalista. Dito e
feito, sai da loja como aquela menina
de "O Exorcista", com os olhos revirando nas órbitas. Não lembro com
exatidão dos preços, e certamente
estarei exagerando, mas havia coisas
tipo uma colherzinha de café por
R$ 3.000, uma almofadinha por
R$ 4.000, um copo de licor sem graça de Baccarat por R$ 5.000, absurdos nessa base.
E era tudo muito rococó, com
umas atendentes gravitando em torno da clientela que mais pareciam
uma ala temática patrocinada pelo
bombom Sonho de Valsa. Enfim, era
um escândalo em matéria de excesso e despropósito.
Mas veja: não estou aqui defendendo uma cruzada contra a gastança. Jogar dinheiro pela janela é tudo
o que almejo na vida. Também não
faço a menor ideia se dona Tania
fraudou ou não os impostos.
Em todo caso, creio que ela já pode
ser considerada duplamente imputável. Primeiro, por crueldade contra as amigas (deduzo que só suas
amigas faziam o favor de comprar
aqueles trique-triques horrendos e
superfaturados) e, segundo, por infestar o mundo de objetos repugnantes.
Essa história não deixa de ter sua
ponta de mistério. Como sabemos, o
caso Daslu foi deflagrado em 2005 e
a investigação na loja de Tania começou um ano mais tarde. Será possível que, com todo o poderio da
Grendene, não passou pela cabeça
do marido contratar os serviços de
um bom contador?
barbara@uol.com.br
www.barbaragancia.com.br
twitter: @barbaragancia
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