São Paulo, sexta-feira, 17 de julho de 2009

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OPINIÃO

Sem preparo, quadro poderia ser muito pior

CELSO GRANATO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O MUNDO TODO , incluindo nós, temos vivido um misto de temor e curiosidade a respeito da popularmente chamada gripe suína. A tão propalada epidemia, esperada há 40 anos, teria finalmente chegado? Teria as terríveis consequências da pandemia de 1918? Seria o final dos tempos?
Países do hemisfério Norte vivem periodicamente seu inferno invernal. Todo ano sofrem com a gripe sazonal e se preparam, com maior ou menor cuidado, para aquela que seria a pandemia recorrente que nos assola a cada 35 ou 40 anos.
Se a gripe sazonal traz mortalidade elevada, ou se o vírus é realmente novo, as atenções se voltam para o problema, disparam-se procedimentos para contenção, mobiliza-se pessoal da saúde, medicamentos e insumos diagnósticos. Se a mortalidade é a esperada, os cuidados habituais são mantidos e a vida segue.
Nós, brasileiros, vivendo abaixo do equador, por razões não muito claras nem justificadas estamos tomando atitudes como se, realmente, tivesse sido anunciado o final dos tempos. Ora, se a mortalidade dessa doença é inferior àquela observada na gripe sazonal, o fato do vírus se originar no porco (ainda que não se transmita pela ingestão da carne desse animal), na galinha ou do animal que seja, passa a ser mera curiosidade veterinária.
Frequento desde 1997 congressos sobre gripe, nos quais são apresentadas as medidas que cada país toma para se preparar para a "grande pandemia". Ficávamos preocupados ao perceber que nossa preparação estava bastante distante daquela dos países desenvolvidos. Entretanto, o aparecimento da Síndrome Respiratória Aguda Grave e da gripe aviária fizeram com que nossas autoridade de saúde se movimentassem e, felizmente, estamos tendo um desempenho razoável nesta epidemia de 2009.
Poderíamos ter um preparo melhor? Certamente. Poderíamos ter hospitais mais equipados, laboratórios mais bem aparelhados, mais pessoal treinado, estoques de medicamentos maiores? Com certeza. Porém, embora tenhamos a lamentar até o momento 11 mortes, o quadro poderia ser muito pior se o preparo dos últimos anos não tivesse ocorrido.
O que esperar ainda para este ano? Particularmente nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, o frio deve continuar por mais algumas semanas. Dentro de duas a três semanas, as escolas reabrirão, as crianças voltarão a se reunir, os meios de transporte ficarão mais lotados e os vírus se transmitirão com maior facilidade. A epidemia local, que já é evidente, tende a se expandir, mas não há evidências de que, percentualmente, haverá maior letalidade. Que lições podemos tirar desse episódio?
Preparar-se para uma epidemia é trabalho do dia a dia, quando ninguém sabe ainda se vai ou não ocorrer um novo surto. É um investimento para salvar vidas no futuro, ainda que com um gasto importante hoje.
Será que chegará o dia em que nós passaremos a usar máscaras quando estivermos gripados para não contaminar as pessoas que viajem no metrô, nos ônibus ou nos trens ao nosso lado, como vemos nos filmes japoneses e coreanos? Tomara que fique pelo menos essa lição...

CELSO GRANATO, médico, é assessor para infectologia do Fleury Medicina e Saúde



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