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OPINIÃO
Sem preparo, quadro poderia ser muito pior
CELSO GRANATO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O MUNDO TODO , incluindo nós, temos vivido um misto de temor e curiosidade a respeito da
popularmente chamada gripe
suína. A tão propalada epidemia, esperada há 40 anos, teria
finalmente chegado? Teria as
terríveis consequências da
pandemia de 1918? Seria o final
dos tempos?
Países do hemisfério Norte
vivem periodicamente seu inferno invernal. Todo ano sofrem com a gripe sazonal e se
preparam, com maior ou menor cuidado, para aquela que
seria a pandemia recorrente
que nos assola a cada 35 ou
40 anos.
Se a gripe sazonal traz mortalidade elevada, ou se o vírus é
realmente novo, as atenções se
voltam para o problema, disparam-se procedimentos para
contenção, mobiliza-se pessoal
da saúde, medicamentos e insumos diagnósticos. Se a mortalidade é a esperada, os cuidados habituais são mantidos e a
vida segue.
Nós, brasileiros, vivendo
abaixo do equador, por razões
não muito claras nem justificadas estamos tomando atitudes
como se, realmente, tivesse sido anunciado o final dos tempos. Ora, se a mortalidade dessa
doença é inferior àquela observada na gripe sazonal, o fato do
vírus se originar no porco (ainda que não se transmita pela ingestão da carne desse animal),
na galinha ou do animal que seja, passa a ser mera curiosidade
veterinária.
Frequento desde 1997 congressos sobre gripe, nos quais
são apresentadas as medidas
que cada país toma para se preparar para a "grande pandemia". Ficávamos preocupados
ao perceber que nossa preparação estava bastante distante
daquela dos países desenvolvidos. Entretanto, o aparecimento da Síndrome Respiratória
Aguda Grave e da gripe aviária
fizeram com que nossas autoridade de saúde se movimentassem e, felizmente, estamos tendo um desempenho razoável
nesta epidemia de 2009.
Poderíamos ter um preparo
melhor? Certamente. Poderíamos ter hospitais mais equipados, laboratórios mais bem
aparelhados, mais pessoal treinado, estoques de medicamentos maiores? Com certeza. Porém, embora tenhamos a lamentar até o momento 11 mortes, o quadro poderia ser muito
pior se o preparo dos últimos
anos não tivesse ocorrido.
O que esperar ainda para este
ano? Particularmente nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, o
frio deve continuar por mais algumas semanas. Dentro de
duas a três semanas, as escolas
reabrirão, as crianças voltarão a
se reunir, os meios de transporte ficarão mais lotados e os vírus se transmitirão com maior
facilidade. A epidemia local,
que já é evidente, tende a se expandir, mas não há evidências
de que, percentualmente, haverá maior letalidade.
Que lições podemos tirar
desse episódio?
Preparar-se para uma epidemia é trabalho do dia a dia,
quando ninguém sabe ainda se
vai ou não ocorrer um novo
surto. É um investimento para
salvar vidas no futuro, ainda
que com um gasto importante
hoje.
Será que chegará o dia em
que nós passaremos a usar
máscaras quando estivermos
gripados para não contaminar
as pessoas que viajem no metrô, nos ônibus ou nos trens ao
nosso lado, como vemos nos filmes japoneses e coreanos? Tomara que fique pelo menos essa
lição...
CELSO GRANATO, médico, é assessor para infectologia do Fleury Medicina e Saúde
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