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SAÚDE
Levantamento que avaliou 930 peças publicitárias será apresentado hoje; 33% delas anunciam produtos sem registro
90% das propagandas de remédio têm falha
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Avaliação de 930 propagandas
de remédios feita pela Anvisa em
conjunto com 14 universidades
aponta que 90% das peças publicitárias apresentavam algum tipo
de irregularidade. O levantamento deve ser apresentado hoje em
Brasília, durante a primeira Conferência Nacional de Medicamentos e Assistência Farmacêutica.
Com base no trabalho, a agência
e as universidades irão propor
mudanças na legislação sobre o
assunto. O documento será finalizado em março do próximo ano,
afirmou a gerente de Controle e
Fiscalização de Medicamentos e
Produtos da agência, Maria José
Delgado Fagundes. O órgão não
divulga quais são as propagandas
porque ainda não concluiu o processo contra os irregulares.
O Projeto de Monitoração de
Propaganda e Publicidade de Medicamentos começou em outubro
de 2002. Os primeiros resultados,
referentes a cerca de 800 peças publicitárias, colhidas até janeiro de
2003, foram divulgados em maio
deste ano. Até ali, 80% das peças
apresentavam irregularidades.
O grupo coletou 3.033 peças publicitárias -ainda restam 2.103 a
serem analisadas. A avaliação é
feita com base principalmente
nos dispositivos da resolução número 102 da Anvisa, que regulamentou a propaganda do setor.
Os resultados mostram que a
indústria, publicitários e meios de
comunicação descumprem o básico, apregoado desde 1968, em
texto da Assembléia Mundial de
Saúde, que diz que "todas as formas de publicidade de um medicamento devem ser verídicas e fidedignas, não podem conter declarações inexatas ou incompletas
nem afirmações impossíveis de
serem verificadas (...)".
Metade do total de peças colhidas foi veiculada em meio impresso. Foram encontradas principalmente em consultórios médicos
(46%). Entre as infrações mais
frequentes, está a propaganda de
produtos sem registro (33%).
Produtos ilegais, sem o aval do
Ministério da Saúde, não só são
colocados no mercado como empresas que fabricam os produtos
pirata fazem propaganda. Na pesquisa divulgada em maio, a situação era pior: 83% das peças eram
de produtos sem registro.
O grupo também encontrou
muitas propagandas com símbolos que possibilitavam uma interpretação falsa (22%). Até produtos de controle especial, como psicotrópicos, eram anunciados irregularmente em publicações sem
caráter técnico-científico, a que
pacientes têm acesso. Segundo a
gerente, até os médicos são desrespeitados. Em propagandas para eles, havia o uso de estudos falsos sobre o benefício de drogas.
Anúncios usavam irregularmente a expressão "aprovado" ou
"recomendado" -que induz a
uma diferenciação falsa do produto-, mostra a avaliação, além
de não incluir a contra-indicação
principal das drogas. "Deveria haver o mesmo peso para o que é
bom e o que é ruim", diz Fagundes. Alguns dos remédios de venda livre são anunciados de maneira que estimula o consumo indiscriminado, ainda de acordo com
o levantamento.
A Febrafarma (Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica)
repetiu nota divulgada em maio.
Ela dizia que "acredita que esse
assunto seria mais bem tratado se
a Anvisa e as empresas dialogassem para que a agência reguladora pudesse expor as suas preocupações com eventuais e potenciais
excessos". O Conar (Conselho
Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária) não se manifestou.
(FABIANE LEITE E IURI DANTAS)
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