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INFÂNCIA
Coordenadora de pesquisa realizada pelo Ipea afirma que políticas governamentais não chegam até os internos
71% dos abrigos de menores têm problemas
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
Uma pesquisa do Ipea (Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada)
indica que 71% das 190 unidades
públicas que abrigam adolescentes infratores estão em péssimo
estado de conservação e não oferecem espaços suficientes para
prática de atividades esportivas e
de convivência entre os internos.
O estudo informa que, em todo
o país, há 9.555 adolescentes privados de liberdade, dos quais
4.429 só no Estado de São Paulo.
Do total, 85,6% admitiram ser
usuários de drogas. Os dados foram colhidos entre setembro e
outubro de 2002.
A coordenadora do trabalho,
Enid Rocha, disse que os adolescentes infratores não são tratados
como cidadãos. "As instituições
são muito ruins. As políticas governamentais não chegam até os
internos, o que dificulta a reinserção na sociedade."
Para Oscar Vilhena, conselheiro
do Ilanud (Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a
Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente), a pesquisa
confirma que é "equivocada" a
política pública para os menores
infratores. "A situação das unidades mostra que o Estado gasta dinheiro e devolve à sociedade jovens mais perigosos."
Segundo o levantamento, a
maioria das unidades está em
condições precárias de higiene e
manutenção. Os prédios não têm
banheiros suficientes, possuem
infiltrações e escassez de água. Em
vários casos, os internos são obrigados a dormir no chão molhado.
Há unidades que se assemelham a
prisões e isolam os internos em
salas especiais, as "solitárias".
Rocha afirmou ter encontrado
uma criança de 11 anos em uma
unidade na região Centro-Oeste,
o que contraria o Estatuto da
Criança e do Adolescente, que determina que apenas adolescentes
de 12 a 18 anos podem ficar detidos. Ela apontou deficiência na
qualificação dos profissionais.
"Em vez de serem educadores,
eles são seguranças, o que não pode acontecer."
Das 190 instituições, 101 são exclusivamente para adolescentes já
sentenciados, 51 adotam o regime
de liberdade provisória e 30 acolhem jovens nos dois casos. A pesquisa verificou que, nos três tipos,
há superlotação.
No caso dos abrigos que acolhem só jovens sentenciados, sete
Estados têm, em média, unidades
funcionando acima da capacidade. A pior situação é no Mato
Grosso do Sul, cujo índice de lotação chega a 138%. Nas instituições
de liberdade provisória, o índice
de lotação chega a 213% no Rio
Grande do Sul. Nos abrigos mistos, a situação mais preocupante é
o da Paraíba, que tem índice de lotação de 285%.
A pesquisa constatou que apenas 47% das instituições oferecem
apoio aos egressos. Somente 30%
das unidades encaminham os ex-internos para o mercado de trabalho e 39% oferecem acompanhamento médico/psicológico. Apesar de 99% das unidades oferecerem o ensino fundamental e 63%,
o médio, há insuficiência de salas
de aula e falta de professores.
Origem pobre
O roubo é a principal causa da
internação de adolescentes, correspondendo a 29% das infrações.
A maconha é a droga mais consumida (67,1%). Mais da metade
dos internos (51%) não frequentavam a escola quando detidos e
90% não tinham completado o
ensino fundamental.
Com relação ao trabalho, 49%
dos internos disseram não exercer atividade remunerada antes
da detenção. Apenas 3% trabalhavam com carteira assinada.
O levantamento revela que 81%
dos adolescentes viviam com a família na época em que praticaram
o delito. Os internos são, em sua
maioria, de origem pobre: 40,7%
vêm de famílias cuja renda mensal varia de R$ 200 a R$ 400, 26,2%
têm renda familiar menor do que
R$ 200 e 12,7% vêm de famílias
sem renda.
Uma inspeção feita em julho pelos promotores do Ministério Público do Rio no Instituto Padre
Severino (zona norte) confirma
os dados da pesquisa.
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